Empresário fareja fortuna no ar mais tóxico do mundo
Fumaça é sinônimo de dinheiro para o empresário Jai Dhar Gupta, de Nova Déli.
Gupta, de 43 anos, formado em Wharton, começou a vender máscaras contra poluição no ano passado na Índia, onde ficam algumas das cidades mais tóxicas do planeta.
Ele calcula que venderá 70 mil unidades de janeiro a março –tanto quanto em todo o ano de 2015 e que poderá comprar uma participação acionária na empresa norte-americana que é dona dos direitos dos produtos.
"A Índia será o maior mercado para as máscaras", disse ele, em uma entrevista no dia 11 de janeiro, acrescentando que planeja fabricá-las na Índia e exportá-las.
Gupta pretende expandir para produtos como purificadores internos para carros, e sua empresa, a Nirvana India, definiu uma meta de US$ 30 milhões em vendas totais até março de 2017.
De máscaras a purificadores e até mesmo nebulizadores que aliviam os espasmos pulmonares, a Índia está vendo um surto nas aquisições de produtos desenvolvidos para oferecer um direito humano básico: a capacidade de respirar.
As vendas de filtros que capturam partículas em suspensão minúsculas e nocivas aumentaram em 2015 em redes de varejo online importantes, como Flipkart e Snapdeal.com. As fabricantes de nebulizadores estimam um crescimento anual de até 30%.
As medições de poluição em Nova Déli no inverno rivalizaram com as de Pequim, cidade-símbolo da poluição atmosférica.
Em alguns momentos, as medições realizadas pela Bloomberg News apontaram um índice 45 vezes maior que o limite seguro estipulado pela Organização Mundial da Saúde para as partículas PM2,5, que são capazes de penetrar profundamente nos pulmões e entrar na corrente sanguínea. Na manhã desta quinta-feira, a embaixada dos EUA classificou o ar como extremamente prejudicial à saúde.
Combate à névoa
Em janeiro, a capital da Índia recorreu a grandes restrições ao trânsito para reduzir a fumaça proveniente dos escapamentos e o governo federal acelerou o cronograma para a imposição de normais mais rígidas para as emissões. Em dezembro, a Corte Suprema baniu o registro de grandes veículos a diesel na cidade.
Em 2013, o Banco Mundial estimou o custo anual da degradação ambiental na Índia em US$ 80 bilhões, uma mostra do dano total causado pela poluição à terceira maior economia da Ásia. As usinas elétricas geradoras de fumaça e as fogueiras acesas para uso doméstico pelos mais pobres pioram a névoa cinzenta.
A Flipkart, maior loja virtual da Índia, disse que as vendas de purificadores, como aqueles produzidos pela Koninklijke Philips, com sede em Amsterdã, e pela japonesa Sharp, aumentaram 400% de julho a dezembro do ano passado. O Snapdeal.com, segundo maior site de comércio eletrônico, disse que as vendas de máscaras contra a poluição dobraram em 2015.
As máscaras vendidas por Gupta, da Nirvana India, oferecem, segundo a empresa com sede em Nova Déli, uma mistura de design fashion e proteção, diferentemente dos produtos da concorrência, que têm um visual mais industrial. Gupta planeja produzi-las em uma fábrica no Estado indiano de Madhya Pradesh.
A japonesa Omron vendeu 200.000 nebulizadores na Índia no ano passado e estima até 30% de crescimento anual composto nos próximos três a cinco anos, segundo Hisao Masuda, diretor administrativo da unidade de saúde na Índia.
A capital da Índia foi a cidade mais poluída do mundo segundo a medição de PM2,5, com uma média anual de 153 microgramas por metro cúbico, segundo a base de dados de 2014 da Organização Mundial da Saúde. As quatro cidades mais poluídas eram da Índia.
Aplicativos locais para smartphones, como o Helpchat, financiado pela Sequoia Capital, começaram a integrar dados sobre qualidade do ar a seus programas para ajudar as pessoas a identificarem as áreas mais poluídas.
Em Nova Déli, o pediatra Vikas Bhat disse que um terço de seus pacientes tem problemas respiratórios e que essas doenças aumentaram nitidamente nos últimos cinco anos. A poluição do ar acaba prolongando as infecções e dificulta o tratamento dos pacientes, disse ele, forçando-o a recomendar medidas draconianas.
"No fim das contas, começo a aconselhar os pacientes a ir para as montanhas", disse Bhat.
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