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Na prisão, Leopoldo López procura salvar a Venezuela

Andrew Rosati

21/01/2016 16h54

(Bloomberg) - Quando o governo venezuelano jogou Leopoldo López na prisão, há dois anos, o objetivo era calar um opositor carismático em um país cada vez mais furioso.

Não funcionou.

Um rebelde com habilidade nas ruas e admiradores no exterior, López se tornou temível também atrás das grades. Uma greve de fome de 30 dias ajudou a obrigar os socialistas no poder a realizar as eleições legislativas que criaram uma ampla maioria opositora. E ele manteve suas habilidades de organização. Um dia deste mês, disse seu advogado, os guardas ordenaram que López parasse de falar de política depois que ele fez uma emocionante leitura do salmo do dia, que se referia ao "levantamento da multidão".

"Quando ele quer transmitir uma mensagem", disse Gustavo Velázquez, seu advogado, "ele tem muita energia e força".

Rebelde ou líder?

Poucos questionam isso. O que os venezuelanos temem é que López seja melhor se rebelando do que construindo consensos. Aos 44 anos, descendente de uma família que remonta à fundação do país, com uma educação de elite nos EUA, aspecto de estrela do cinema e uma ambição irrestrita, às vezes López é descrito como uma mistura entre John Kennedy e Nelson Mandela. Mas, como o novo Congresso busca liberá-lo em breve, muita gente está se perguntando se López, cuja popularidade está aumentando rapidamente, é capaz de organizar um movimento político para tirar o presidente Nicolás Maduro do poder e estabilizar o país assolado pela hiperinflação e pela violência.

Alguns céticos dizem que os mais de doze partidos que formam a oposição, de marxistas à centro-direita, precisam de um líder que seja unificador e não de um visionário e nem de um símbolo.

"Ele é um guerreiro e, se Deus permitir, ele será libertado", disse Liliana Hernández, ex-parlamentar opositora que trabalhou de perto com López. "Mas ele é sua própria hierarquia. Ele não tem a noção de decidir coletivamente".

Em um cabo de 2009 divulgado por Wikileaks, diplomatas dos EUA observaram: "Ele é frequentemente descrito como arrogante, vingativo e ávido de poder".

Origens aristocráticas

Muitos dos pobres do país, que durante muito tempo foram a base do governo socialista, não confiam nele por causa de suas origens ricas e aristocráticas. "Ele nunca convenceu o povo", disse Roque Valera, 51, um organizador comunitário. "Ele só está interessado no poder".

Mas as pessoas mais próximas a López dizem que essas opiniões não levam em conta a mudança profunda que ele viveu na prisão. Um dos seus advogados, Juan Carlos Gutiérrez, disse que o contato com criminosos e soldados mal pagos mudou López e deixou-o mais calmo, filosófico e concentrado. López lhe disse, em mais de uma ocasião, que se não fosse pelo sofrimento de sua família ele estaria feliz com essa experiência.

Gutiérrez e outros que o visitaram dizem que López se orientou mais para a política nos últimos dois anos e que expressa o desejo de construir uma coalizão política, em vez de liderar um movimento popular. Ele foi visto estudando detalhadamente relatórios sobre agricultura e petróleo, o principal produto de exportação do país. E escreveu documentos de política econômica.

Mudança

Uma carta escrita por López em novembro, que circulou amplamente, pedia que os venezuelanos usassem as eleições recentes para tentar mudar o regime, apesar de que Maduro só disputará as eleições daqui a três anos.

López, que está detido em uma prisão militar nos arredores de Caracas, foi condenado a quase 14 anos em um julgamento amplamente criticado no exterior. Tanto os EUA quanto as Nações Unidas pediram que ele fosse libertado imediatamente; um dos promotores que lideraram o processo, que fugiu do país, disse que as provas foram inventadas.

Luis Vicente León, presidente da empresa de pesquisa Datanalisis, de Caracas, diz que López sabe que "sua irreverência e sua singularidade talvez sejam suas características mais atraentes". Mas, agora que a Venezuela está tentando sair do caos econômico e político, serão essas as qualidades necessárias de um próximo líder?

Título em inglês: 'From His Jail Cell, Venezuela's Golden Boy Plots to Save Country'

Para entrar em contato com o repórter: Andrew Rosati, em Caracas, arosati3@bloomberg.net.

Tradução: Sílvia Ornelas Revisão: Adelina Chaves