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Não se pode imitar o sucesso dos juros negativos da Dinamarca

15/02/2016 14h21

Christian Wienberg, Peter Levring e Frances Schwartzkopff (Bloomberg) - O país com o maior histórico de taxas de juros negativas poderia oferecer algumas lições sobre como a política funciona.

Segundo o maior banco da Escandinávia, a medida extrema só ajuda os bancos centrais a defender um regime cambial. Para quem está tentando estimular a economia, as taxas negativas são a ferramenta errada. É uma boa notícia para a Dinamarca e a Suíça e uma notícia ruim para a zona do euro, o Japão e a Suécia.

"Nós aprendemos que uma taxa de juros negativa é uma ferramenta que funciona para enfraquecer a própria moeda, mas que não funciona para estimular o crédito", disse Helge Pedersen, economista-chefe da Nordea em Copenhague, em entrevista por telefone. "Na Dinamarca, as taxas de juros negativas deram certo porque a meta era defender a política monetária".

A Dinamarca e Suíça utilizaram taxas negativas extremas --0,75%-- no começo de 2015 para repelir especuladores que estavam acumulando seus ativos com nota de crédito AAA. Embora a Suíça tenha decidido abandonar o limite para o franco suíço, a Dinamarca conseguiu manter o atrelamento ao euro.

Mas, na zona do euro, "as taxas negativas não foram um verdadeiro sucesso", disse Pedersen. As autoridades monetárias de lá estão ficando "cada vez mais desesperadas" e o Banco Central Europeu corre o risco de "ficar atolado em um círculo vicioso".

Rejeição dos investidores

Os comentários foram feitos depois de uma sequência de bombardeios verbais de investidores proeminentes, que acusam os banqueiros centrais de alimentar a turbulência nos mercados com políticas de taxas negativas.

Na semana passada, Scott Mather, diretor-gerente da Pacific Investment Management, questionou a capacidade das taxas negativas para impulsionar a inflação.

Em vez disso, considera-se que as políticas são "desesperadas e, consequentemente, daninhas para a estabilidade financeira e econômica", escreveu ele em um relatório.

Stephen Jen, um dos fundadores da SLJ Macro Partners, disse que os bancos centrais "são agora mais um problema que uma solução".

Mas vale a pena observar outras realidades das taxas negativas.

Na Dinamarca, onde a taxa de depósitos de referência ficou abaixo de zero durante a maior parte de três anos e meio (e a maioria dos economistas não projeta uma saída pelo menos até 2018), as pessoas não começaram a guardar dinheiro debaixo do colchão.

Em parte, é porque a Dinamarca - como a Suécia - está se transformando em uma sociedade que usa pouco dinheiro. Também se deve a que os bancos se abstiveram de repassar o custo das taxas negativas para os clientes do varejo.

Embora a renda obtida com empréstimos tenha sofrido, os bancos se beneficiaram do menor número de empréstimos de liquidação duvidosa e da redução dos custos de financiamento. Os clientes também começaram a transferir fundos de contas de depósito para serviços de gestão de ativos, o que ajuda os bancos a gerar taxas.

"As taxas de juros baixas pressionam o setor bancário, mas, mesmo assim, os lucros dos bancos dinamarqueses se recuperaram significativamente nos últimos anos", disse Jesper Berg, diretor geral da Autoridade Supervisora Financeira em Copenhague, à agência de notícias Bloomberg.

Riscos

Para acomodar o setor financeiro, o banco central da Dinamarca expandiu uma facilidade - a conta-corrente - cuja taxa é zero.

A medida transformou efetivamente a taxa de depósitos negativa em um imposto marginal sobre o excesso de fundos que os bancos não conseguiam colocar na conta-corrente e ajudou a amortecer o golpe.

Mas as distorções nos mercados de crédito são difíceis de ignorar.

As taxas hipotecárias de curto prazo na Dinamarca são negativas e os preços dos imóveis, especialmente na capital, Copenhague, dispararam. O país, que sofreu o colapso imobiliário mais recente em 2008, "agora corre risco de bolhas", disse Pedersen, da Nordea.

Apesar de tudo, a política monetária da Dinamarca deve ser considerada um sucesso "por causa dos objetivos de sua política", segundo Jes Asmussen, economista-chefe do Handelsbanken em Copenhague.

Porém, na zona do euro, "o mecanismo de transição está quebrado".