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Padarias francesas correm para a África para atender mais ricos

Olivier Monnier

19/02/2016 10h54

(Bloomberg) -- Várias vezes por semana, o engenheiro de computação marfinense Paul Tahi passa na padaria Le Roi du Pain, na região norte de Abidjan, para comprar seis baguetes frescas para seus três filhos.

"Meus filhos adoram pão --para o café da manhã ou para o lanche na escola", disse Tahi, 42, carregando um saco de pães franceses. "Na nossa casa comemos mais pão que arroz".

A Le Roi du Pain, que se traduz como O Rei do Pão, foi aberta no bairro Deux-Plateaux, em julho, por Mohamed Shour, de 32 anos, filho de um padeiro libanês que nasceu e cresceu em Abidjan.

O estabelecimento bem iluminado funciona 24 horas e é apenas um dentro do crescente universo de padarias --locais, libanesas e francesas-- que estão surgindo na capital econômica da Costa do Marfim nos últimos meses.

Entre seus concorrentes estão La Brioche Dorée, de propriedade da Groupe Le Duff, com sede em Rennes, França, e as redes também francesas PAUL e Eric Kayser.

"A demanda é enorme e o crescimento no consumo de pão é exponencial", disse Rémi Depoix, presidente da Cerealis, com sede em Paris, que exporta trigo para a África Ocidental e Central.

A empresa planeja duplicar as vendas anuais para 2 milhões de toneladas na próxima década para atender a demanda crescente na África, que responde por 60 por cento das exportações.

As importações anuais de trigo para a África subsaariana aumentaram nos últimos 10 anos, para 23 milhões de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA.

A urbanização crescente e a expansão da classe média na África subsaariana estão ampliando a demanda por produtos de panificação de qualidade mais elevada, incluindo pastelaria, disse Depoix.

O número de famílias de classe média na região, que são aquelas que consomem US$ 15 a US$ 115 por dia, triplicou desde 2000, segundo o Standard Bank Group, com sede em Johannesburgo. Uma baguete comum da PAUL em Abidjan custa 300 francos, contra 150 francos em uma padaria local.

Isso tem motivado as redes de padarias francesas a começarem a investir na África -- e não apenas nos países francófonos.

A PAUL, de propriedade da Groupe Holder of France, abriu seu segundo estabelecimento em Abidjan no mês passado, na Rue Des Jardins, uma movimentada rua comercial.

A cafeteria-padaria também está se expandindo na África do Sul (onde a Famous Brands, com sede em Johannesburgo, tem direito a abrir cerca de 30 estabelecimentos em todo o país) antes de mirar outros países da África subsaariana.

A La Brioche Dorée planeja abrir 30 restaurantes em seis países até 2025 depois que sua primeira padaria em Abidjan começou a vender produtos, em dezembro. A padaria artesanal parisiense Eric Kayser está considerando Abidjan para abrir seu terceiro estabelecimento africano neste ano, que se somará às unidades do Senegal e da República Democrática do Congo.

Padarias industriais

O Carrefour, maior rede de varejo da França, está abrindo supermercados em países africanos, como a Costa do Marfim, e criando um mercado para padarias especialistas em produção massiva, segundo Raymond Nogael, diretor de marketing da Mecatherm, a fabricante francesa de equipamentos de panificação, como fornos.

"A população está crescendo e terá cada vez mais necessidades", disse ele. Haverá "mais padarias industriais".

Mas algumas pessoas continuam acreditando no apelo do pão feito à mão.

Em Abidjan, Hussein Taan conquistou a reputação de ser um dos melhores padeiros da cidade.

Após estudar panificação na escola de artes culinárias Ferrandi, de Paris, o libanês-marfinense abriu a Des Gâteaux et du Pain em 2008.

Taan, 30, agora administra três estabelecimentos e vende mais de 2.000 pães e croissants por dia. Uma das criações mais populares da padaria é o Gagnoa, um bolo mousse de chocolate batizado em homenagem a uma cidade da região cacaueira mais fértil do país.

"Temos cada vez mais clientes e potenciais clientes", disse Taan, em sua loja principal, localizada perto da PAUL, na Rue Des Jardins. "As pessoas conheceram uma nova forma de fazer pão, uma nova classe de bolos, e adquiriram novos hábitos".