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Pílula da libido feminina é sintoma dos problemas da Valeant

Cynthia Koons

17/03/2016 12h24

(Bloomberg) -- As dificuldades da Valeant Pharmaceuticals International para aumentar as vendas de sua nova pílula para libido feminina são uma amostra dos problemas da fabricante de medicamentos.

A distribuidora de remédios por encomenda que poderia ter ajudado está fora de cena após um escândalo que obrigou a Valeant a romper o relacionamento, em outubro. As operadoras de seguro-saúde estão negando ou limitando cobertura à pílula diária, chamada Addyi, e gestores de benefícios de saúde de grandes empresas estão barrando o medicamento. O resultado: muitas receitas escritas por médicos não estão sendo processadas.

"Claramente temos que demonstrar nossa capacidade de sucesso e ainda não o fizemos", disse o CEO Mike Pearson, em teleconferência na terça-feira. "Depende de nós e estamos trabalhando duro para chegar lá".

Vender o Addyi -- o primeiro medicamento desse tipo para mulheres -- é apenas um dos numerosos desafios que a Valeant tem pela frente. Investidores perderam a fé na atribulada companhia e as ações e os bonds tiveram a maior queda já registrada na terça-feira. A Valeant fechou acordo para compra da fabricante do Addyi, a Sprout Pharmaceuticals, por US$ 1 bilhão em agosto, em um momento em que a estratégia de Pearson de crescimento por meio de aquisições e aumentos de preços era apoiada por Wall Street. Refletindo a drástica desvalorização da Valeant nos últimos seis meses, o Addyi deixou de ser uma aposta ousada e passou a ser um negócio problemático.

"Não sabemos o potencial do Addyi, mas não achamos que será um sucesso de vendas", disse Ram Selvaraju, analista da Rodman & Renshaw que recomenda a compra das ações da Valeant. "Trata-se de um equívoco caro".

Estreia desafiadora

A Valeant disse que as vendas do Addyi estão crescendo após uma estreia desafiadora, que a empresa atribui em parte ao fato de existir confusão em relação à especialidade médica que prescreveria o tratamento. Além disso, os gestores de benefícios de saúde a funcionários demoram seis a nove meses para analisar qualquer novo medicamento. Atualmente, cerca de 57 por cento das prescrições escritas estão sendo processadas e pagas, contra 25 por cento a 30 por cento no quarto trimestre, disse Anne Whitaker, presidente do conselho do grupo da empresa, na teleconferência.

A transação envolvendo o Addyi -- dias após sua aprovação pela Agência de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês) -- foi uma aposta arriscada desde o início. O tratamento, que foi rejeitado duas vezes antes da aprovação, traz um quadro com alerta, o mais rigoroso da FDA, e as mulheres têm que assinar um termo de reconhecimento dos riscos. Um estudo holandês que combinou oito testes clínicos envolvendo quase 6.000 mulheres, divulgado em fevereiro, mostrou que o Addyi ofereceu a elas uma experiência sexual satisfatória adicional por mês, embora trazendo como efeitos colaterais tonturas, sonolência, náuseas e fadiga.

Depois vem a questão do preço. Antes da venda à Valeant, a CEO da Sprout, Cindy Whitehead, disse que a empresa fixaria o preço do Addyi em cerca de US$ 350 a US$ 400 por mês antes da cobertura do seguro médico. Whitehead inicialmente concordou em entrar na Valeant e liderar a divisão, mas deixou a empresa poucos meses depois. O Addyi, que diferentemente dos medicamentos de disfunção sexual masculina é uma pílula diária, atualmente tem preço de venda de US$ 800 a US$ 850 por 30 comprimidos, segundo o site de comparação de preços GoodRx.

Diferentemente das disfunções sexuais masculinas, o baixo desejo sexual nas mulheres não é uma desordem médica amplamente reconhecida. A Valeant disse que está trabalhando para educar médicos, farmacêuticos e agentes de saúde sobre o transtorno do desejo sexual hipoativo, conhecido como TDSH, e espera uma maior cobertura dos planos de saúde no segundo semestre.

"Quando aumentar o reconhecimento em relação ao TDSH como condição médica importante e bem validada, veremos as preocupações em relação aos reembolsos diminuírem", disse Tracy Valorie, porta-voz da Valeant. "Estamos abrindo um novo caminho para essas mulheres e isso nunca é um processo da noite para o dia".