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Da China à Suíça, petróleo exportado pelos EUA se populariza

Javier Blas e Laura Hurst

18/03/2016 14h56

(Bloomberg) -- Três meses após os EUA cancelarem a proibição às exportações de petróleo, que estava em vigor havia 40 anos, o óleo está fluindo praticamente para todos os cantos do mercado e reformulando o mapa mundial da energia.

As vendas internacionais, que começaram em 31 de dezembro com um pequeno carregamento a bordo do navio Theo T, vêm ganhando velocidade. As empresas petroleiras, incluindo a Exxon Mobil e a China Petroleum and Chemical Corporation (Sinopec), se uniram a traders independentes, como Vitol Group e Trafigura, para a exportação de petróleo americano.

Os "volumes crescentes de exportações" dos EUA agora estão "assustando os mercados", disse Amrita Sen, analista-chefe de petróleo na consultoria Energy Aspects, em Londres, em nota. A "enxurrada de atividade de exportação" está ajudando a respaldar os preços do petróleo à vista nos EUA em relação aos contratos para entrega posterior, escreveu ela.

Com os estoques americanos em níveis inéditos, os navios petroleiros carregados com petróleo dos EUA estão atracados ou a caminho de países como França, Alemanha, Países Baixos, Israel, China e Panamá.

Os investidores de petróleo disseram que há outros destinos prováveis em um momento em que o abastecimento na Europa e na região do Mediterrâneo também está aumentando.

Menor escala

Os EUA provavelmente continuarão, em um futuro próximo, sendo um pequeno exportador em relação a gigantes da Opep como Arábia Saudita, Irã e Iraque e produtores de fora da Opep, como México e Rússia. Ian Taylor, executivo-chefe da Vitol, a empresa por trás da primeira exportação, acredita que as exportações continuarão sendo "um negócio muito marginal".

Contudo, navio a navio, as vendas internacionais estão crescendo.

A Enterprise Products Partners, uma das maiores operadoras de terminais de petróleo dos EUA, disse aos investidores neste mês que a empresa esperava gerenciar sozinha exportações de petróleo bruto e condensados --uma forma de petróleo de qualidade ultra-alta-- da ordem de 165 mil barris por dia durante o primeiro trimestre, aumento de quase 28% em relação à média de 2015.

Transporte mais barato

Um dos motivos por trás da alta das exportações são as tarifas mais baratas de dutos e ferrovias para a movimentação do petróleo dos campos do Texas, de Oklahoma e de Dakota do Norte para os portos americanos do Golfo do México.

Outra razão é que os preços do petróleo dos EUA vêm sendo negociados com desconto em relação ao petróleo brent, o que permite que as investidores movimentem petróleo de um porto ao outro no Atlântico com lucro.

As exportações poderiam aliviar a pressão sobre a capacidade de armazenagem nos EUA depois que os estoques atingiram o nível mais elevado dentro do histórico que remete a 1930.

Os tanques do hub de petróleo em Cushing, o maior do país e ponto de entrega do petróleo de referência West Texas Intermediate, estão 92,5% cheios, segundo a Administração de Informação de Energia dos EUA.

O risco é que os EUA possam transferir o excedente para a Europa e o Mediterrâneo, onde há uma reserva mais elevada que o normal vinda do Mar do Norte e provocada também pela chegada dos primeiros barris do petróleo iraniano à região desde 2012.

Do Texas à Sicília

A proibição às exportações foi imposta no rescaldo de um embargo do petróleo, de 1973 a 1974, pelos membros árabes da Opep, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo. Aquilo prejudicou a economia dos EUA e evidenciou sua dependência em relação às importações.

Antes de cancelar a proibição, os EUA vendiam até 500.000 barris por dia no exterior, a partir do Alasca e de alguns outros pontos permitidos pela lei federal.

No início de março, a Exxon se tornou a primeira grande empresa petroleira dos EUA a embarcar petróleo americano para o exterior, ao enviar o petroleiro Maran Sagitta de Beaumont, Texas, para uma refinaria da empresa na Sicília, Itália.

Dias depois, a Sinopec embarcou uma carga de petróleo dos EUA no petroleiro Pinnacle Spirt, a primeira de um grupo petroleiro chinês.