Análise: Investidores aumentam confiança na Argentina
(Bloomberg) -- Nos quatro meses desde que o antigo prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, foi eleito presidente, a Argentina se tornou um ímã para os investidores globais. Eles estão antecipando o maior surto de crescimento na América Latina, um recuo correspondente da inflação e os melhores retornos das empresas mais saudáveis do continente.
Os mercados muitas vezes concedem uma auréola aos novos governos que desaparece quando as promessas não conseguem ser mantidas. Os investidores na Argentina estão muito familiarizados com a decepção para declarar que desta vez será diferente.
No entanto, talvez realmente seja. Macri é o primeiro presidente eleito em 100 anos que não está ligado nem ao partido de Juann Perón nem à alternativa radical que historicamente impediram a Argentina de crescer para uma economia desenvolvida e sustentável.
Relegado nos últimos anos para a categoria de mais alto risco junto a países como Marrocos, Quênia e Romênia, a Argentina tem o potencial para ultrapassar seus pares de mercado. Muitas de suas empresas já são globalmente competitivas e isso aumentará mais se o governo abandonar seu estatismo de longa data.
Isso é o que Macri se comprometeu a fazer quando concorreu à presidência em outubro e o que tem feito com pressa desde que tomou posse em dezembro:
- acabar com a mistura de moedas, preço e controles comerciais com crédito fácil da ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner
- reduzir o deficit, cortando os subsídios à energia em 1,5%o e os gastos federais em 0,8% este ano
- parar de financiar o deficit por meio de transferências do Banco Central para o Tesouro, que chegaram a 78 bilhões de pesos (US$ 5,8 bilhões) no ano passado
Claro, o novo governo eliminou os controles cambiais e a maioria das tarifas de exportação sobre produtos agrícolas, por exemplo, reduzindo impostos sobre as exportações de soja em 5 pontos percentuais, para 30%.
O governo desvalorizou o peso quase 30% em relação ao dólar, permitindo que flutue, e permitindo o acesso sem restrições ao mercado de câmbio pela primeira vez em quatro anos.
Colhendo frutos
O trabalho político de Macri já está dando frutos. O retorno total sobre a dívida da Argentina desde a eleição de novembro subiu para 7,5%, em comparação com 3,5% de uma cesta de dívidas dos mercados emergentes; uma proporção de 2 para 1 tinha prevalecido nos 10 anos anteriores à eleição.
A volatilidade ou risco de reversão associada com a dívida argentina, caiu para 2,3 vezes a dos mercados emergentes nos últimos cinco meses, de 4,4 vezes na década anterior, de acordo com dados compilados pela agência de notícias Bloomberg.
Custos de empréstimos estão voltando ao normal
A percepção da qualidade do crédito da Argentina, por sua vez, está melhorando. O custo de captação do país diminuiu cerca de 3 pontos percentuais desde a eleição, do ponto mais alto em 2014 para um pouco mais de 6%, o mais baixo, pelo menos desde que o governo reestruturou sua dívida em 2010.
Isso trouxe a diferença entre o custo de captação da Argentina e do Chile para apenas 2 pontos percentuais em relação aos 15% de dois anos atrás, segundo dados da Bloomberg.
Um peso, dois valores
Pela primeira vez em cinco anos, há confiança suficiente no compromisso do governo com o mercado livre para diminuir o "spread" entre o valor do peso argentino no mercado internacional e seu valor oficial a algo insignificante, mostram os dados da Bloomberg. Antes de Macri assumir, o valor do peso tinha sido inflado por controles cambiais.
O maior catalisador para a crescente confiança nos mercados de ações e títulos é a perspectiva para a inflação, que o governo de Macri diz atingirá o pico este ano antes de retroceder em 2017.
De acordo com 13 economistas consultados pela Bloomberg, o Índice de Preços ao Consumidor vai diminuir de 34,2% em 2016 para 19,7% no próximo ano.
Isso ajuda a explicar por que, pela primeira vez em pelo menos dez anos, os gritos dos investidores internacionais sobre a Argentina estão se tornando sorrisos.
*Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou Bloomberg LP e seus proprietários.
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