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'Brexit' é obstáculo para projeções sobre juros no Reino Unido

Scott Hamilton e Jill Ward

11/04/2016 14h17

(Bloomberg) -- Mark Carney poderia enfrentar um desafio daqui a pouco mais de dois meses, caso os britânicos decidam permanecer ou abandonar a União Europeia.

Embora o presidente do Banco da Inglaterra (BOE, na sigla em inglês) tenha insinuado uma trajetória de ajuste lento e os investidores não projetem uma alta das taxas de juros em anos, uma vitória dos que querem ficar na UE na votação do dia 23 de junho tem potencial para criar um pano de fundo totalmente novo.

Com o risco de "Brexit" eliminado, os mercados poderiam atrair apostas em um aumento, o que geraria um novo obstáculo comunicativo para o Comitê de Política Monetária (MPC, na sigla em inglês), que realizará sua reunião mensal nesta semana.

Como o crescimento econômico é relativamente consistente --ainda que não excepcional-- e projeta-se que a inflação acelere, alguns economistas preveem que uma vitória da campanha para permanecer na UE poderia possibilitar um aumento das taxas neste ano.

O pessimismo do mercado em relação à perspectiva de um aumento no curto prazo se reflete na precaução internacional, sendo que o Banco Central Europeu está aumentando o estímulo e o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) concorda com uma estratégia de avançar lentamente para seu ajuste.

"Em termos fundamentais, a economia britânica está em boa forma", disse James Knightley, economista do ING Bank. "Se não fosse pela votação do Brexit, eu seria muito mais otimista. O mercado de trabalho está incrivelmente ajustado, há muita confiança, os preços das casas também estão subindo".

Dados

O MPC do BOE, de nove membros, provavelmente votará por unanimidade manter a taxa de juros de referência no valor mínimo recorde de 0,5% na quinta-feira porque a incerteza gerada pelo referendo apoia o argumento contrário a agir. A decisão será publicada ao meio-dia junto com um comunicado sobre política econômica e um registro dos votos dos membros.

Outros dados que serão publicados nesta semana mostrarão que a inflação subiu de 0,3% em fevereiro para 0,4% em março, segundo economistas consultados pela agência de notícias Bloomberg.

Isso significa que a taxa esteve abaixo da meta de 2% do banco central durante 27 meses. Em suas últimas projeções, as autoridades do BOE previram que a inflação se manterá abaixo de 1% até a virada do ano e depois voltará para a meta no começo de 2018.

Contudo, há sinais de que agora a inflação superou seu menor nível. As autoridades econômicas podem oferecer uma análise sobre como o declínio recente da libra afetará a taxa de crescimento dos preços e uma avaliação de uma recuperação nos custos do petróleo.

A libra caiu 11% desde o começo de dezembro com base na cotação comercial ponderada, o que encareceu as importações.

Cenário

Nesse cenário, se os britânicos votarem por permanecer na UE, a atenção poderia voltar rapidamente para o momento em que o BOE começar a subir as taxas.

Com um crescimento gradual dos salários e dos custos unitários de mão de obra à medida que a inatividade econômica for sendo eliminada, isso poderia acontecer no final do ano, segundo James Rossiter, economista da TD Securities em Londres.

Fora o referendo, o contexto internacional poderia escurecer ainda mais, preocupação destacada pelo BOE em março.

E apesar de que os economistas prenunciem que as taxas aumentarão muito antes do que os investidores - os quais estão até precificando certa chance de que baixem --uma pesquisa da Bloomberg mostra que eles adiaram suas previsões para o primeiro trimestre do ano que vem em comparação com a projeção anterior para o quarto trimestre de 2016.

"É improvável que o MPC considere a fraqueza da economia no curto prazo como motivo para flexibilizar a política, mas vai esperar para ver como a coisa está após o referendo sobre a UE", disse Michael Saunders, economista do Citigroup.

"Continuamos acreditando que a próxima movimentação das taxas provavelmente --afinal de contas-- será para cima em vez de para baixo, tanto em um cenário de Brexit quanto no nosso cenário de base de uma permanência na UE".