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Produtores petróleo vão a Doha após gasto US$ 315 bi em reservas

Javier Blas

15/04/2016 10h56

(Bloomberg) -- Os maiores exportadores mundiais de petróleo estão queimando seus ativos em petrodólares a um ritmo acelerado, aumentando a pressão para fechar um acordo para congelar a produção e reforçar os preços.

Os 18 países que se reunirão em Doha no domingo para discutir um congelamento da produção gastaram US$ 315 bilhões de suas reservas internacionais -- cerca de um quinto do total -- desde o início da queda do petróleo, em novembro de 2014, segundo dados compilados pela Bloomberg. Nos últimos três meses de 2015, as reservas caíram aproximadamente US$ 54 bilhões, maior declínio trimestral desde o início da crise.

As consequências da queima de petrodólares vão além dos países do petróleo, afetando gestoras de fundos internacionais como a Aberdeen Asset Management e os mercados internacionais de câmbio. Os países petroleiros tradicionalmente mantêm suas reservas em títulos do Tesouro dos EUA e em outros títulos líquidos. No entanto, o impacto sobre os mercados de crédito tem sido reduzido porque os bancos centrais continuam comprando dívidas.

"Estimamos que 2016 será outro ano doloroso para a maior parte dos estados petroleiros", disse Abhishek Deshpande, analista de petróleo da Natixis em Londres.

A reunião de Doha abrangerá tanto países da Opep quanto os de fora da organização, mas é provável que qualquer acordo para aumentar os preços seja praticamente cosmético porque os países já estão produzindo quase a níveis recorde.

Em uma carta de convite dos países à reunião de Doha, o ministro de Energia do Catar, Mohammed Al Sada, disse que os países petroleiros precisam estabilizar o mercado "para o bem de uma economia mundial mais saudável, porque entende-se que o baixo preço atual não beneficia ninguém".

Queima de reservas

A Arábia Saudita responde por cerca de metade do declínio das reservas internacionais entre os produtores de petróleo, com US$ 138 bilhões -- ou 23 por cento de seu total --, seguido da Rússia, Argélia, Líbia e Nigéria. Nos últimos três meses do ano passado a Arábia Saudita queimou US$ 38,1 bilhões, maior redução trimestral desde 1962, segundo dados históricos.

A queda do petróleo começou em novembro de 2014, quando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, liderada pelos sauditas, decidiu lutar por participação de mercado -- e sepultar as produtoras dos EUA -- em vez de reduzir a produção para segurar os preços, como fazia antigamente. Essa política derrubou o petróleo Brent, referência internacional, de uma média de US$ 111 por barril em 2013 para uma média de apenas US$ 35 até esta altura do ano. A queda forçou os países produtores a utilizarem seus recursos de emergência.

Na terça-feira, a Fitch Ratings rebaixou a classificação de crédito da Arábia Saudita para AA-, depois que medidas similares já haviam sido tomadas pela Standard & Poor's e pela Moody's. A Fitch disse que Riad enfrentaria grandes déficits fiscais neste ano e que uma "grande fatia das necessidades de financiamento do governo será financiada pelo uso de ativos financeiros internacionais".

Projeção do FMI

O Fundo Monetário Internacional projeta que o déficit em conta-corrente da Arábia Saudita será equivalente a 10,2 por cento de seu produto interno bruto neste ano, maior total desde 1998, quando os preços do petróleo caíram para US$ 10 o barril. De forma semelhante, os Emirados Árabes Unidos estão enfrentando um déficit no balanço de pagamentos neste ano pela primeira vez desde que se começou a ter estatísticas confiáveis, em 1980, segundo o FMI.

Não é possível calcular a queda total dos ativos em petrodólares porque alguns países do Oriente Médio, como o Kuwait e os Emirados Árabes, não divulgam dados atualizados de seus fundos soberanos de investimento.

Os futuros do petróleo Brent, que atingiram a maior baixa em 12 anos em janeiro, subiram 30 por cento desde que a Arábia Saudita, a Rússia, o Catar e a Venezuela chegaram a um acordo preliminar para congelar a produção, em fevereiro. Nesta semana, a Rússia disse que vê um acordo para o congelamento da produção de petróleo como possível quando se reunir com os demais produtores, independentemente de o Irã -- que disse que planeja aumentar sua produção -- fazer parte ou não do pacto.