Argentina abre caminho para venda de títulos de emergentes
(Bloomberg) -- A enorme venda de US$ 16,5 bilhões em títulos de dívida da Argentina está abrindo as comportas para emissores de classificação especulativa de países em desenvolvimento.
O retorno do país latino-americano aos mercados de capitais globais após o calote de 2001 elevou a emissão de títulos de alto rendimento dos mercados emergentes a US$ 18 bilhões nesta semana. O montante é maior que o total registrado nas 11 semanas anteriores combinadas. Gestores de recursos de empresas como Aviva Investors e Bluebay Asset Management acreditam que o dilúvio ainda não acabou.
Os tomadores de empréstimos de grau especulativo do mundo em desenvolvimento estão aproveitando os yields próximos ao menor patamar em três anos em um momento em que as políticas acomodatícias dos bancos centrais estão aumentando o apetite pelo risco, criando um cenário que o Goldman Sachs classifica como o de melhores condições de financiamento para os mercados emergentes desde 2012. O Líbano, o mais endividado dos países árabes, captou US$ 1 bilhão na terça-feira, e a Georgian Oil & Gas vendeu US$ 250 milhões de notas de cinco anos, enquanto a Mol Nyrt. da Hungria prepara sua primeira venda de eurobonds desde 2012.
"A magnitude da emissão na Argentina certamente alertará os emissores sobre o que parece ser uma profunda demanda subjacente por ativos de alto rendimento", disse Aaron Grehan, gerente de fundos de Londres que ajuda a administrar US$ 4,5 bilhões em dívidas de mercados emergentes na Aviva Investors e que apresentou oferta por títulos argentinos. "Como emissor há um atrativo evidente em chegar no momento atual".
A demanda foi tão grande pela oferta de quatro partes da Argentina que o governo, excluído dos mercados mundiais de capitais há 15 anos devido a disputas legais com credores, conseguiu reduzir o guidance inicial para a dívida de 10 anos em 50 pontos-base, para 7,5 por cento. Os investidores apresentaram ofertas por quase US$ 69 bilhões, segundo dados do Ministério da Fazenda e Finanças.
Quase simultaneamente, o Líbano, cuja economia está sendo castigada pela chegada de mais de um milhão de refugiados sírios, emitiu dívidas com vencimento em oito e 15 anos a 6,65 por cento e a 7 por cento.
Operação histórica
"Para os demais emissores de alto rendimento, teria sido perigoso, e potencialmente caro, tentar chegar ao mercado antes dessa operação histórica" da Argentina, disse Graham Stock, chefe de pesquisa de mercados emergentes da Bluebay Asset Management, que administra US$ 60 bilhões em investimentos de renda fixa. Com a "nova referência líquida e de alto rendimento dos mercados emergentes, há muitos emissores que tentarão realizar a captação de recursos rapidamente", disse ele.
As emissões dos mercados emergentes começaram a se recuperar em março, quando o Banco Central Europeu expandiu os estímulos e o Federal Reserve sinalizou que não apressaria o aumento de suas taxas de juros. Os investidores que buscam refúgio contra os yields negativos, da Europa ao Japão, contribuíram com a queda de 1,2 ponto percentual na taxa média sobre o índice Bloomberg U.S. Dollar High Yield Emerging Market Sovereign Bond em relação à maior alta em seis meses, registrada em fevereiro, para 6,28 por cento na quarta-feira.
Em março, o JPMorgan, terceiro maior gestor de vendas de títulos de mercados emergentes deste ano, aumentou sua projeção para as vendas de títulos soberanos em 2016 em 64 por cento, para US$ 100 bilhões.
Um dos motores do aumento da emissão serão as potências do petróleo, que buscarão fechar os rombos em seus orçamentos resultantes da queda de 60 por cento do petróleo desde o início de 2014. Abu Dhabi, que possui cerca de 6 por cento das reservas mundiais comprovadas de petróleo, está sondando investidores sobre seus planos para realizar sua primeira venda internacional em mais de sete anos. A Arábia Saudita, por sua vez, quer recorrer aos mercados de dívidas pela primeira vez na história. Ambos os tomadores de empréstimos do Golfo Pérsico possuem classificações de grau de investimento.
A Argentina "certamente fará com que outros emissores estudem sair com novas operações", disse Angelo Rossetto, trader da GMSA Investments em Londres, que apresentou ofertas por títulos argentinos e está analisando a Mol, o grupo de energia húngaro.
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