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Bill Gross diminuiu aposta no Brasil antes de votação do impeachment

Ben Bain e Julia Leite

20/04/2016 15h51

(Bloomberg) -- Semanas antes de os deputados aprovarem o prosseguimento do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, operadores no mercado de crédito, antes otimistas com o País começaram a perder a fé no Brasil -- incluindo Bill Gross.

A estratégia está se mostrando acertada.

Em março, Gross diminuiu sua exposição a Brasil no mercado de derivativos, que figurava entre as 10 maiores posições da carteira de US$ 1,3 bilhão do Janus Global Unconstrained Bond Fund nos últimos meses, uma de suas apostas mais bem-sucedidas. Antes de disparar em abril, o risco de crédito de curto prazo do Brasil com base no CDS afundou nos seis meses anteriores.

A atuação do bilionário de 72 anos reflete a preocupação crescente entre investidores de que o Brasil terá dificuldades para tirar a economia da pior recessão em um século e ajustar suas finanças, mesmo que Dilma seja afastada. Depois que a Câmara votou a favor do impeachment no domingo, o processo agora vai para o Senado. Os sinais de que Gross estava mudando sua visão surgiram em fevereiro, quando ele descreveu como "pena de morte" a decisão do Brasil de tomar empréstimos com juros altos em um momento de contração da economia do país.

"Depois de precificar algum otimismo entre dezembro e fevereiro, os mercados se acalmaram para esperar pelo processo político", diz Paul Christopher, chefe de estratégia global do Wells Fargo Investment Institute, em St. Louis, que administra US$ 1,7 trilhão. "Também existe uma percepção cada vez maior de que uma recuperação rápida dos mercados brasileiros é improvável, independentemente do resultado".

Erin Passan, porta-voz da Janus, não respondeu a pedido de comentário sobre os ativos nem sobre a estratégia do fundo.

Desempenho superior

A Janus não divulgou nenhuma posição além das 10 maiores do fundo e não está claro se Gross abandonou sua posição nos chamados credit default swaps com vencimento em março e junho no mês passado, se deixou alguns contratos vencerem ou se diminuiu suas posições.

O fundo da Janus gerido por Gross era a contraparte daqueles investidores que apostaram contra o Brasil no mercado de credit default swaps da dívida soberana. Como vendedor da proteção, ele se beneficiava de qualquer melhora na qualidade do crédito brasileiro.

O Janus Global Unconstrained Bond Fund teve um desempenho melhor que 58 por cento de seus pares nos últimos 12 meses. Embora o fundo talvez tenha posições em outros CDS do Brasil, o trade não figura mais entre as 10 maiores posições da carteira.

Impeachment

Se o Senado brasileiro der continuidade ao processo de impeachment da presidente, ela será afastada temporariamente do cargo enquanto não for tomada a decisão final. A empresa de consultoria política Eurasia Group diz que é provável que o Senado decida prosseguir com o julgamento.

Enquanto esse processo se desenrola, a situação só piora para o Brasil. A maior economia da América Latina deve encolher 3,6 por cento em 2016 depois da contração de 3,8 por cento do ano passado. O provável sucessor de Dilma - o vice-presidente Michel Temer - também terá que enfrentar o maior déficit orçamentário em duas décadas em um país paralisado pelo impasse.

O ambiente político atual "solapa a implementação de reformas fiscais ou estruturais que poderiam recuperar o crescimento e conter o aumento da dívida", disse Samar Maziad, analista da Moody's Investors Service, em uma nota enviada por e-mail.