Crise do cobre freia boom de energia limpa no Chile
(Bloomberg) -- A queda do preço internacional do cobre está ajudando a frear o mercado de energias renováveis de mais rápido crescimento da América Latina.
O Chile, maior produtor de cobre do mundo, instala há dois anos milhares de parques solares e eólicos para abastecer as fábricas que processam o minério extraído das remotas minas do ensolarado deserto do norte do país, famintas por energia. Mas como o metal hoje vale a metade do que valia cinco anos atrás, a produção caiu e a demanda por energia desacelerou. O enfraquecimento da indústria mineira está provocando um descompasso entre a geração e a demanda por energia em um país que enfrenta entreves geográficos, com uma rede de energia segmentada e distante milhares de quilômetros dos centros populacionais do país.
"O primeiro 'boom' da energia limpa acabou", disse Carlos Barria, ex-chefe da divisão de energias renováveis do governo, atualmente professor da Pontificia Universidad Católica de Chile, em Santiago. "Veremos uma menor quantidade de novos projetos".
As instalações solares triplicarão neste ano, refletindo os projetos financiados antes da queda do preço da eletricidade, mas os bancos frearam os financiamentos, o que significa que o número de novos parques cairá 66 por cento em 2017, segundo a Bloomberg New Energy Finance. No caso das turbinas eólicas, a queda ocorrerá mais cedo, com um declínio de 62 por cento nas instalações em 2016 depois que as produtoras adicionaram 900 megawatts nos dois anos anteriores, estima a BNEF.
Expansão no norte
A maior parte da nova capacidade foi construída na região norte de um país que se estende por mais de 4.200 quilômetros ao longo do Oceano Pacífico, do Peru ao Oceano Austral. Não há linhas de transmissão para conectar a eletricidade gerada para a indústria da mineração -- que utiliza um terço da energia do Chile -- com a rede que abastece as áreas mais populosas, na parte central do país, em Santiago, ou com as regiões mais ao sul.
No ano passado, o preço à vista da eletricidade caiu para US$ 104 por megawatt/hora no Chile, valor 34 por cento menor que o de 2013, segundo dados do Ministério de Energia. Os preços do mercado regulado também estão em queda, em cumprimento à promessa do governo baratear a eletricidade para a população. Recentemente, em outubro, quando mais plantas eólicas e solares entravam em funcionamento, os contratos de eletricidade eram leiloados por US$ 79,30.
"Existe capacidade excedente no norte do Chile e os preços estão em queda", disse Rafael Mateo, CEO da unidade de energia da Acciona, que já possui um parque eólico no Chile e está construindo projetos solares no país. A Acciona, que tem sede em Alcobendas, na Espanha, quer ter 1 gigawatt de capacidade de energia renovável no Chile em 2020.
A crise da mineração está ampliando o excedente de energia. O excesso de cobre e a desaceleração da demanda global derrubaram o metal, que em janeiro atingiu o menor valor em sete anos, e diversas grandes produtoras, como a BHP Billiton e a Anglo American, reduziram suas operações no Chile. A produção total do país nos dois primeiros meses do ano foi 6,7 por cento menor que no mesmo período de 2015, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas do país.
Investimentos congelados
Mais de 70 por cento dos investimentos em mineração planejados para aumentar a produção no Chile estão congelados ou em revisão e na próxima década os investimentos poderão alcançar no máximo US$ 40 bilhões, menos que os US$ 110 bilhões estimados em 2012, segundo a Sociedade Nacional da Mineração, conhecida como Sonami. A organização estima, atualmente, que a eletricidade de que o setor precisa aumentará 54 por cento na próxima década, contra uma projeção de 80 por cento em 2014.
"O consumo ainda está crescendo, mas não no mesmo ritmo de antes", disse Álvaro Merino, gerente da Sonami.
Isso alterou a equação econômica das novas usinas de energia, especialmente aquelas incapazes de garantir contratos de abastecimento de longo prazo aos clientes.
"O financiamento à energia solar no Chile, atualmente, é algo difícil, porque a maior parte da oferta está no norte", disse Rodrigo Violic, chefe de financiamento de projetos do Banco Bice, de Santiago. "De agora em diante, nem todos os projetos conseguirão contratos de financiamento".
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