Análise: Não se empolgue ainda com a BP e com o petróleo
(Bloomberg) -- Então existe uma forma de responder aos críticos. Bob Dudley foi atacado pelos acionistas da BP na reunião anual da empresa por seu aumento salarial de 20%.
Se tivessem sido capazes de ver os lucros do primeiro trimestre da empresa, eles poderiam ter sido ligeiramente menos apopléticos em relação às recompensas pelo fracasso.
O CEO da BP surpreendeu a todos ao divulgar um lucro ajustado de US$ 532 milhões no primeiro trimestre, quando a previsão de consenso entre os analistas consultados pela Bloomberg era de prejuízo de US$ 245 milhões.
É claro que não deveríamos nos entusiasmar. O resultado está bastante abaixo do lucro de US$ 2,6 bilhões atingido há um ano e, no total, a empresa ainda teve um prejuízo líquido de US$ 558 milhões.
Mas considerando que o petróleo Brent registrou um preço médio de apenas US$ 34 por barril durante o trimestre --menos de dois terços o valor do mesmo trimestre do ano anterior--, o resultado foi resiliente.
Dudley deveria receber o crédito por comandar o navio com mão firme: o derramamento no Golfo do México ofereceu à empresa uma vantagem sobre suas concorrentes na corrida para cortar custos e vender ativos.
No geral, os custos de caixa foram cerca de US$ 4,6 bilhões mais baixos nos últimos quatro trimestres do que em 2014. Mas nem tudo são flores. A BP ainda gasta mais dinheiro do que arrecada, por exemplo.
Gerou US$ 1,9 bilhão em fluxo de caixa operacional, mas gastou cerca de US$ 3,9 bilhões em despesas de capital durante o trimestre. Cerca de US$ 1,1 bilhão em pagamentos relacionados ao derramamento no Golfo foram compensados por um montante similar de recursos de desinvestimentos.
A dívida líquida aumentou para US$ 30 bilhões e a alavancagem financeira da BP --o coeficiente entre dívida líquida e patrimônio-- aumentou para 23,6%, contra 18,4% há um ano. Embora os fluxos de caixa estejam desequilibrados, os investidores continuarão temendo que o dividendo da empresa não seja sustentável.
A declaração da BP de que é capaz de equilibrar suas contas com os preços do barril de petróleo em US$ 50 a US$ 55 foi, portanto, o destaque positivo do trimestre. Anteriormente, a empresa mirava US$ 60. O Brent ficou acima de US$ 45 por barril na semana passada, um bom sinal, se o patamar se sustentar.
A BP diz que se os preços do petróleo começarem a dar marcha à ré novamente, a empresa é capaz de reduzir as despesas de capital para apenas US$ 15 bilhões em 2017, contra cerca de US$ 17 bilhões neste ano.
Os investidores deveriam esperar que a empresa não precise fazê-lo, porque os investimentos são a base do lucro futuro. A maior rival da petroleira, a Royal Dutch Shell, está se expandindo ainda mais com a aquisição da BG por 35 bilhões de libras (US$ 51 bilhões).
Antes da divulgação dos resultados, a suposição era que as operações downstream da BP não resgatariam os deficitários negócios upstream como no ano passado. Isso não se confirmou. Mas as margens de refino foram, na verdade, as mais fracas desde 2010.
No entanto, as operações downstream ainda geraram um bom lucro.
É difícil analisar exatamente como a BP desafiou as previsões mais pessimistas. A empresa não separa o desempenho de sua divisão de trading, por exemplo, que é incluída no segmento de downstream.
Mas além de cortar custos, os baixos preços do petróleo podem estar encorajando os motoristas a fazerem viagens mais longas com seus carros, contribuindo para os volumes de sua divisão de combustíveis.
Não surpreende que as ações da empresa tenham subido mais de 4 por cento na terça-feira. Contudo, há motivos para cautela.
Embora Dudley esteja fazendo o certo em relação ao custo, o fracasso da recente negociação de Doha para o congelamento da produção de petróleo sugere que o preço poderá ter dificuldades para subir rapidamente, de novo, para mais de US$ 50.
Além disso, a BP é negociada a 36 vezes os lucros estimados de 2016, contra 23 vezes no caso da Royal Dutch Shell. Parece um exagero.
Dudley deveria ser louvado por tentar colocar a casa em ordem na BP. Ainda há um longo caminho a percorrer, contudo, antes que se declare o fim do longo inverno do petróleo e o começo do verão.
Essa coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.
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