Análise: Mercado aposta no lado político de Henrique Meirelles
(Bloomberg) -- O mercado reage positivamente ao favoritismo de Henrique Meirelles para assumir a Fazenda em um eventual governo de Michel Temer.
Com carreira marcada por oito anos na presidência do Banco Central e postos de comandos em grandes grupos privados, Meirelles, na visão do mercado, poderia combinar duas condições vistas como indispensáveis para enfrentar os desafios atuais: preparo técnico e habilidade política.
"Meirelles tem muito trânsito tanto no mercado quanto no meio político. Além disso, é respeitado lá fora, o que seria muito bom em um momento em que o Brasil precisa ganhar credibilidade", diz Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset Wealth Management. "Ele tem muito prestígio no exterior e o país precisa melhorar as expectativas, recuperar a confiança do investidor."
Como presidente do BC entre 2003 e 2010, Meirelles manteve a inflação na meta e a economia cresceu perto da média dos emergentes, um desempenho não repetido nos anos seguintes.
Habilidade política
Porém, não é apenas sua condição de gestor econômico ou financeiro que agrada o mercado. Meirelles "entende como Brasília funciona", diz Edwin Gutierrez, chefe da área de dívida de países emergentes da Aberdeen em Londres.
A falta de habilidade política foi uma das razões do insucesso do ex-ministro Joaquim Levy, segundo Gutierrez. "O Brasil agora precisa mais de um político do que um tecnocrata."
O executivo da Aberdeen admite que o novo ministro enfrentará um quadro complicado, mas vê a suposta ambição presidencial de Meirelles como uma motivação adicional. "Ele tem capacidade para colocar o navio no rumo e pavimentar o caminho para 2018, que é sua aspiração."
João Paulo de Gracia Corrêa, superintendente da SLW Corretora, considera positivos para o mercado tanto o nome de Meirelles quanto o de José Serra, tido como mais provável novo ministro da Educação e ainda no páreo para a Fazenda, segundo os jornais.
No caso do tucano, contaria a favor o fato de poder sedimentar o apoio do PSDB, que tem se mostrado ainda arredio à ideia de apoiar o governo Temer, diz Corrêa.
O melhor cenário para o mercado, diz Corrêa, seria Temer, além de anunciar uma equipe de alta credibilidade, conseguir que a mesma composição do Congresso que está apoiando o impeachment se transforme numa base sólida para aprovar as reformas.
O pior cenário é o oposto disso: o novo governo enfrentar dificuldades políticas, sem apoio no Congresso e com forte oposição do PT. "Sabemos que precisamos de medidas duras para o país sair da crise", diz Corrêa.
Euforia
Spyer considera possível que, confirmada uma melhora do cenário político, o que passaria pela definição de uma equipe econômica de peso, o dólar possa cair para até R$ 3.
Um cenário de euforia, contudo, depende de riscos externos, como os relacionados aos juros do Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos), saída do Reino Unido da União Europeia e dívida da China, não se concretizarem e de o governo brasileiro mostrar força para aprovar as reformas necessárias para conter o aumento da dívida, diz o diretor da Mirae.
"Tudo o que o mercado vai querer ver no pós-impeachment é como o governo conseguirá aprovar as reformas."
Para o governo Temer, há dois cenários possíveis, diz Marcelo Mello, CEO da SulAmerica Investimentos. "Em um, com uma forte equipe econômica sendo realmente capaz de implementar medidas ortodoxas. No outro, com a nova equipe não conseguindo aprovar as medidas necessárias. Neste caso, os ativos brasileiros vão se depreciar", diz Mello.
(Com a colaboração de Paula Sambo, Filipe Pacheco, Patricia Lara e Denyse Godoy)
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