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Bancos da Europa evitam Irã com medo de multas por sanções

Fabio Benedetti-Valentini e Ladane Nasseri

03/05/2016 15h53

(Bloomberg) -- As empresas europeias que estão retornando ao Irã não desfrutam da companhia de seus bancos favoritos.

Menos de dois anos depois de o BNP Paribas concordar em pagar uma multa recorde de US$ 9 bilhões aplicada pelos EUA em parte por negociar com o Irã, muitos dos maiores bancos do continente continuam mantendo distância de empresas relacionadas ao Irã por medo de entrar em conflito com as sanções americanas restantes ao país. Isso abriu o caminho para que bancos chineses e do Golfo Pérsico, e também instituições europeias como o belga KBC Groep, agarrassem uma fatia do negócio de financiamento a investimentos das empresas no Irã.

A relutância é mais uma complicação para fabricantes como Airbus e PSA, a produtora dos carros Peugeot, que buscam capitalizar com o crescimento do Irã. O problema de financiamento se transformou em um ponto de atrito da diplomacia financeira. Temendo que as empresas possam perder exportações, o governo da França iniciou negociações com o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (Ofac, na sigla em inglês) do Departamento do Tesouro dos EUA para conseguir uma garantia de que os bancos podem fazer negócios sem incorrer em problemas legais, disseram duas pessoas com conhecimento do assunto.

"Os bancos querem certeza máxima", disse Tanguy Coatmellec, sócio do grupo de assessoria a serviços financeiros da Ernst & Young em Dubai. "Grande parte do risco é, realmente, a posição política dos EUA a longo prazo. Ou os métodos de financiamento serão encontrados ou esses contratos não serão finalizados".

Sanções nucleares

O Société Générale, da França, o Deutsche Bank, da Alemanha, o Credit Suisse, com sede em Zurique, o ING Groep, da Holanda, e o Standard Chartered, do Reino Unido, estão entre os grandes bancos europeus que dizem que, de forma geral, ainda não estão preparados para fazer negócios com o Irã.

Em janeiro, os EUA, a Rússia e os países europeus cancelaram uma série de sanções econômicas em troca de um acordo com o Irã que limita suas atividades nucleares. Contudo, restam restrições significativas ao Irã para combater o apoio ao terrorismo, as violações dos direitos humanos e o desenvolvimento de mísseis balísticos. Continua existindo uma proibição crucial às transações denominadas em dólares relacionadas ao Irã, o que afasta a maior parte dos grandes bancos europeus.

As autoridades iranianas estão pressionando os EUA a tranquilizar os bancos em relação aos negócios com o Irã. O presidente do banco central iraniano, Valiollah Seif, disse à Bloomberg Television no mês passado que o Ofac deveria emitir diretrizes para incentivar os bancos europeus a serem mais receptivos ao Irã.

Esclarecendo a 'confusão'

Os EUA se empenharão em esclarecer a "confusão" existente entre alguns bancos estrangeiros, disse o secretário de Estado, John Kerry, em 22 de abril, antes de uma reunião com o ministro das relações exteriores iraniano, Mohammad Javad Zarif. Ele preferiu não dizer se o Tesouro dos EUA emitirá diretrizes com mais detalhes sobre as transações permitidas, encorajando os bancos, em vez disso, a apresentarem perguntas. "Quando tiverem dúvidas, perguntem", disse ele.

As autoridades americanas realizaram reuniões em todo o globo neste ano com representantes de governos e executivos bancários em mais de uma dezena de países para discutir os temores relativos ao alívio das sanções, segundo um porta-voz do Tesouro. O Tesouro e o Departamento de Estado dos EUA estiveram em contato com representantes do governo francês e executivos do país, segundo o porta-voz, que não comentou sobre possíveis garantias feitas.

As empresas francesas têm sido as mais agressivas na busca por negócios iranianos. Mais de uma dezena de altos executivos de empresas como a construtora Vinci e a Aéroports de Paris viajaram no mês passado para Teerã com o ministro dos transportes, Alain Vidalies, quando a Air France retomou sua rota iraniana após um intervalo de oito anos. Embora as firmas francesas tenham prometido neste ano mais de US$ 30 bilhões em investimentos no Irã, não está claro como os recentes acordos comerciais receberão financiamento bancário.