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China despeja firmas de investimento para evitar protestos

Bloomberg News

05/05/2016 14h31

(Bloomberg) -- Na tentativa de evitar possíveis tumultos devido ao crescente número de calotes entre firmas de investimento e bancos on-line, autoridades chinesas estão determinando que muitos quebrem contratos de aluguel e fechem as portas em ruas movimentadas para que não se tornem alvos de manifestantes.

Não só isso, o registro de toda nova entidade com nome relativo a finanças foi suspenso em todo o país em abril, de acordo com pessoas familiarizadas com a questão, que pediram anonimato porque não estão autorizadas a falar publicamente sobre o assunto. Em Shenzhen, administradoras de prédios de escritórios agora precisam dar à secretaria de segurança pública informações de contato dos funcionários de todos os inquilinos ligados ao setor financeiro. Governos locais de Xangai à província central de Henan colocaram cartazes em frente a complexos residenciais para alertar a população sobre atividades ilícitas de captação.

O governo, que vinha incentivando os novos bancos on-line e firmas de investimento nos últimos dois anos a conceder financiamento alternativo a empresas pequenas sem acesso a empréstimos bancários e a ampliar as opções de investimento para milhões de chineses, fracassou nas regulamentações que teriam evitado calotes. Novos bancos on-line de empréstimos entre particulares (P2P) abriram agências em ruas movimentadas ou em luxuosos edifícios de escritórios para captar investimentos da população geral e contrataram milhares de funcionários para vender produtos que prometiam retornos extraordinários. Lojas foram abertas para oferecer produtos de gestão de patrimônio com grandes compensações. Muitas instituições também recorreram à internet, dando visibilidade ao que antes era o nebuloso e oculto mundo do sistema bancário paralelo, conhecido como shadow banking.

Agora, depois que quase 1.000 credores on-line quebraram nos últimos 12 meses e as fraudes se mostram prevalentes entre as incontáveis gestoras de patrimônio da China, as autoridades estão agindo para restringir seu crescimento e impedir a potencial instabilidade.

"A intensificação do controle dos bancos P2P ressalta maior preocupação do governo de que essas operações se tornem complicadas e saiam do controle", disse Hu Xingdou, professor de Economia do Instituto de Tecnologia de Pequim. "Essas operações P2P poderiam envolver centenas de milhares de pessoas e poderiam facilmente provocar distúrbios sociais se essas firmas ficarem sem dinheiro".

Maior monitoramento

Na China, os produtos de gestão de patrimônio oferecem taxas de juros altas no curto prazo e não contam com garantia oficial. O leque de produtos oferecidos pelo conjunto desregulamentado de P2Ps, empresas de investimento e gestoras de patrimônio pode servir desde um casal de noivos que busca financiamento on-line para um casamento garantindo pagá-lo depois que receberem os presentes em dinheiro ou empréstimos de alto rendimento para projetos arriscados no setor imobiliário ou de mineração, que antes eram oferecidos no âmbito do sistema bancário paralelo em cidades como Wenzhou, Xangai e Pequim.

Agora que grande parte do sistema bancário paralelo foi transferida para a internet, o risco cresceu e o alcance geográfico aumentou. Muitas vezes as próprias firmas não revelam os investimentos subjacentes e simplesmente oferecem retornos que vão de 8 por cento a 24 por cento - e, em alguns casos, até mais que isso.

Tarde demais

Talvez seja tarde demais. Mais de 90 por cento das quase 4.000 plataformas de crédito que restam na China prometiam a seus 2,9 milhões de investidores retornos anuais entre 8 por cento e 24 por cento em março, de acordo com o Yingcan Group, que monitora os dados. Isso se compara com a taxa oficial de depósito da China de 1,5 por cento, em um momento em que a economia cresce no ritmo mais lento dos últimos 25 anos e a capacidade das empresas de honrar suas dívidas é a menor em registro.

Esses retornos tão altos são irreais no contexto de uma crise econômica e outras plataformas vão dar calote, disse Yang Dong, professor da Faculdade de Direito Renmin em Pequim.

"Quem pode gerar 24 por cento? É impossível", disse Soul Htite, fundador e CEO do banco online Dianrong.com, com sede em Xangai. Ele calcula que apenas umas 20 P2Ps terão sucesso, com base em sua experiência no Vale do Silício e em ajudar a fundar a LendingClub nos EUA. "As empresas desaparecem por diversos motivos. Um deles é que cometem crimes e são pegas. Para outras, o motivo é um modelo de negócios que não é realista".