Opinião: Credibilidade do Fed está se esvaindo
(Bloomberg) -- Em janeiro de 2012, o Federal Reserve prometeu manter sua medida preferida de inflação próxima de 2 por cento no longo prazo. Mais de três anos se passaram e esta promessa ainda não foi cumprida, colocando em xeque a disposição do banco central americano de entregar o que prometeu.
O chamado índice de preços para despesas de consumo pessoal registrou variação de apenas 1,1 por cento nos 12 meses até abril. Excluindo preços de alimentos e energia, que são mais voláteis, o indicador avançou 1,6 por cento. Ambas as métricas rodam bem abaixo de 2 por cento há mais de três anos.
Alguns diriam que falta munição às autoridades monetárias e que o Fed já fez tudo o que pôde para combater a inflação abaixo da meta e não teve progresso. Na verdade, o Fed vem apertando a política monetária nos últimos três anos. Ainda na semana passada, a comandante da instituição, Janet Yellen, enfatizou que o Fed pretende continuar subindo as taxas de juros nos próximos meses.
Para compreender a motivação do Fed, é útil tentar responder a esta pergunta: A instituição teria começado a retirar estímulos em maio de 2013 se a taxa básica de juros estivesse em 5 por cento e não próxima de zero e se não estivesse com trilhões de dólares em títulos em carteira? Neste caso, eu acho que o Fed teria aumentado a dose de estímulos ao baixar os juros. Assim, a atual trajetória escolhida pela instituição não é definida pela situação econômica, mas por um desejo de trazer juros e balanço patrimonial ao que é considerado "normal."
Poupadores, banqueiros e muitos políticos concordam com esse objetivo. Eles querem o que é "normal", ou seja, juros mais altos. Porém, o Fed prometeu focar em resultados econômicos, como a inflação, e não nessa opinião. Não é possível quebrar esta promessa sem que as pessoas passem a desconfiar de sua disposição de cumprir promessas no futuro. Essa corrosão da confiança se reflete nas cotações dos títulos do Tesouro americano, que sugerem redução das expectativas de inflação de longo prazo (especificamente, a inflação anualizada no período de cinco anos que se iniciará daqui a cinco anos).
Alguns argumentam que os investidores simplesmente exigem menos prêmio para correr o risco inflacionário e não que esperam inflação baixa. Mas isso também seria um sinal preocupante para o Fed, por sugerir que os investidores duvidam que o banco central vá reagir em períodos difíceis (quando o crescimento econômico é baixo e o desemprego é elevado), permitindo que a inflação recue tanto que os títulos do Tesouro terão desempenho muito melhor do que os títulos protegidos da inflação.
As dúvidas dos investidores não surpreendem, considerando o foco do Fed em "normalizar" os juros em vez de atingir sua meta de inflação. Essa preocupação será um fator prejudicial a mais se e quando a economia piorar. Ou seja, a disposição do Fed em negar suas promessas tende a fazer com que a próxima recessão seja pior do que seria se a autoridade monetária atuasse diferentemente.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.
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