Mercado releva tropeços iniciais de Temer
(Bloomberg) -- O constrangimento gerado pelo apoio do governo ao reajuste dos servidores em um momento de emergência na área fiscal, alvo de fortes críticas na imprensa, foi insuficiente para abalar o mercado. A credibilidade da equipe econômica do presidente interino Michel Temer ajuda a contrabalançar seus tropeços.
Pesa também positivamente a possibilidade de o Senado antecipar para julho a votação definitiva do impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff. Virada a página da mudança política, o novo governo ficaria menos preso às incertezas políticas, podendo concentrar o foco na economia.
A aparente falta de firmeza do presidente interino também se revelou em questões como o recuo no corte feito no "Minha Casa, Minha Vida" e a recriação do ministério da Cultura. Assim como no caso do reajuste dos servidores, estes reveses de Temer não tiveram efeito visível no mercado.
O dólar, por exemplo, tem oscilado sem abandonar o nível entre R$ 3,50 e R$ 3,60 nas últimas três semanas. Especificamente hoje, o desempenho positivo do mercado externo, com mercado de trabalho norte-americano bem abaixo do esperado, ajuda a ampliar os ganhos da moeda brasileira.
Isso não significa que o investidor esteja 100% otimista com o governo. O que ocorre é que, no governo anterior, estava muito claro para o mercado que não havia nenhuma chance de o ajuste fiscal ser implementado, seja por falta de apoio político seja por falta de vontade da presidente, diz o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman. "No novo governo, o mercado pelo menos vê uma chance modesta de dar certo".
O ex-BC se diz ainda ainda "muito cético" quanto às chances de o novo governo aprovar as reformas e cumprir o ajuste fiscal. Ainda que o mercado se mostre compreensivo com o "realismo político" do presidente , Schwartsman faz dois questionamentos:
- Como pedir aumento de imposto após aprovar um reajuste bilionário para os servidores?
- Após recuar em questões economicamente menos relevantes, como Temer agirá quando surgirem resistências a reformas decisivas, como a da Previdência?
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