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Cidades incham e apetite da África Ocidental por arroz aumenta

Olivier Monnier

15/06/2016 15h00

(Bloomberg) -- O arroz está se tornando a comida preferida da África Ocidental. Após quatro décadas importando esse produto básico, a região agora busca cultivar uma quantidade suficiente de arroz para atender à demanda doméstica.

As colheitas de arroz na África Ocidental provavelmente atingirão a alta histórica de 14,9 milhões de toneladas neste ano, em comparação com 14,6 milhões de toneladas no ano passado, quando Senegal e Gana produziram safras recorde, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês). A safra de Mali deverá crescer cerca de 8 por cento, e a produção de diversos outros países, como Costa do Marfim e Serra Leoa, aumentou todos os anos desde 2011, disse a Organização.

Os governos da África Ocidental começaram a investir no cultivo de arroz após a crise de alimentos de 2008, quando uma disparada mundial dos preços de produtos alimentícios desencadeou protestos violentos em cidades da Costa do Marfim, de Camarões e de Burkina Faso, disse Concepción Calpe, economista da FAO, em entrevista por telefone, de Roma.

"Vimos um grande aumento das importações e, ao mesmo tempo, da produção, porque o preço no mercado internacional estava muito mais alto", disse Concepción. "O medo provocado pela crise de alimentos levou muitos países da África Ocidental a investir pesado na produção".

Eles estão tentando atender ao crescente apetite por arroz que está surgindo às custas de produtos tradicionais, como mandioca e milho. A África Ocidental dependeu das importações de arroz oriundo da Ásia desde 1975, quando o consumo da população de crescimento acelerado começou a superar a produção. Hoje, à medida que os salários sobem e as cidades africanas incham, mais e mais pessoas comem arroz porque o produto é fácil de armazenar e de preparar, de acordo com Yacouba Dembele, diretor do Escritório Nacional para o Desenvolvimento de Arroz na Costa do Marfim.

Autossuficiência

O presidente senegalês, Macky Sall, disse em uma entrevista no mês passado que os governos deveriam pensar em aumentar o cultivo de arroz porque o produto se tornou um "alimento estratégico" desde que a China passou a importá-lo. Sall prometeu em diversas ocasiões tornar o Senegal autossuficiente em arroz até 2017, um plano que a oposição considera inviável.

Mas ele não é o único a ter esse objetivo. O presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, quer que seu país seja autossuficiente em arroz até 2017. Muhammadu Buhari, da Nigéria, definiu 2018 como meta para que o maior produtor e importador do produto básico na África Ocidental acabe com as remessas que entram no país. Mali, Guiné e Serra Leoa já estão perto da autossuficiência, e a colheita de arroz de Mali cobre 91 por cento da demanda doméstica, de acordo com a AfricaRice, um instituto internacional de pesquisa com sede em Abidjã.

Como os líderes consideram que a autossuficiência é uma questão política fundamental, o produto básico se tornou político, o que significa que alguns dados oficiais sobre a produção talvez não sejam confiáveis, disse Concepción, da FAO. "Muitos dos dados estatísticos têm implicações políticas", disse ela. "Nem todos estão fundamentados em evidências fortes".