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Na China, risco de calote da Venezuela ganha páginas de jornais

Christine Jenkins e Ting Shi

16/06/2016 15h13

(Bloomberg) -- Investidores em títulos se perguntam cada vez mais se a Venezuela, assolada pela crise, entrará em calote. Agora, o tópico está ganhando também as primeiras páginas na China, um dos maiores apoiadores financeiros do país latino-americano.

Em 11 de junho, o People's Daily -- jornal que é porta-voz do Partido Comunista da China -- publicou uma reportagem em sua edição internacional com a manchete "Será que a Venezuela dará calote?". Após analisar a disposição e a capacidade de pagamento do país, o autor conclui que a resposta é negativa e atribui todas as versões sobre a possibilidade de calote a especulações da imprensa. A reportagem também defende que a China, que tem US$ 3,2 trilhões em reservas internacionais, as maiores do mundo, mantenha seu apoio à Venezuela.

"Em uma perspectiva de longo prazo, faz sentido para o lado chinês, emocional e racionalmente, oferecer ajuda, dentro da nossa capacidade, a parceiros em dificuldades econômicas como a Venezuela", disse a reportagem.

Contudo, apesar da aparente disposição para apoiar a Venezuela, o Barclays e o Exotix Partners fazem parte de um grupo crescente de observadores do mercado que mostram ceticismo quanto à possibilidade da China estar realmente preparada para aumentar o financiamento. Na última década, a China emprestou cerca de US$ 50 bilhões à Venezuela, boa parte destinada a ser devolvida com o fornecimento de petróleo. Mas, com a economia da Venezuela em frangalhos e o aumento das tensões políticas, o país luta vigorosamente para manter o pagamento de sua dívida em dia.

"A China não parece disposta a aumentar sua exposição à Venezuela nas condições atuais de incerteza política e econômica", disse Alejandro Arreaza, analista do Barclays. "Eu ficaria muito surpreso se eles aumentassem a dívida".

Segundo estimativas dele, a Venezuela deve cerca de US$ 20 bilhões à China.

O ministério das relações exteriores da China não respondeu a um pedido da Bloomberg para comentar a reportagem do People's Daily e o compromisso financeiro do país com a Venezuela.

No mês passado, o porta-voz do ministério das relações exteriores da China, Hong Lei, disse que o país concordou em analisar formas de tornar a cooperação de financiamento com a Venezuela "mais flexível" em meio à queda dos preços do petróleo. Na quarta-feira, o ministério das relações exteriores disse que os dois países têm tido "benefícios reais" com a cooperação.

"Mesmo se os chineses estiverem menos dispostos a emprestar dinheiro à Venezuela, acho que publicamente eles tentarão transmitir mensagens de apoio", disse Stuart Culverhouse, analista do Exotix em Londres. "A Venezuela dá muita importância à China e a vê como uma fonte fundamental de financiamento, e acho que a recíproca talvez não seja tão verdadeira quanto já foi um dia. A percepção é que a disposição da China para continuar oferecendo financiamento está se tornando mais limitada ou sendo testada".