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China, maior vendedor de títulos verdes, enfrenta ceticismo

Lianting Tu

20/06/2016 15h27

(Bloomberg) -- Agora que a China ultrapassou os EUA e se transformou no maior emissor de títulos verdes, alguns investidores estão se mostrando céticos em relação a um regime regulatório que permite até vendas feitas por projetos de carvão.

Empresas chinesas de automóveis elétricos e de energia eólica se juntaram a bancos para reunir o equivalente a US$ 8,8 bilhões em títulos verdes neste ano, um terço da emissão global, mostram dados da Bloomberg. Como 95,4 por cento dessas ofertas estão denominadas em yuans e os padrões locais diferem dos globais, existem obstáculos para os fundos estrangeiros. As usinas de energia a carvão limpo se qualificam para obter a posição na China, mesmo que entrem em conflito com os mandatos de alguns investidores.

"Vimos alguns títulos serem emitidos apenas com o emissor afirmando que eles são verdes, e não com uma agência certificando o título como verde", disse David Smith, diretor de administração corporativa da Aberdeen Asset Management Asia. "Com o tempo poderíamos ver as agências darem mais detalhes sobre o que é um título 'verde'".

A China vem abrindo seu mercado local de dívida a investidores globais para ajudar a financiar a transição da sua economia em direção a serviços e alta tecnologia e distanciando-se de setores poluentes. Até agora, os investidores estrangeiros possuem menos de 2 por cento das notas onshore. A Standard Life Investments, que administra US$ 83 bilhões em títulos, não examinou nenhum dos títulos verdes chineses recentes. A empresa precisaria passá-los pelos seus próprios critérios ambientais, sociais e administrativos.

Diretrizes estritas

"Não é suficiente que um título seja rotulado de 'verde'", disse Samantha Lamb, diretora de investimentos para créditos em Londres. "Continua a haver a necessidade de uma revisão minuciosa das afirmações feitas pelos emissores globais de títulos verdes, de altos padrões de administração, de um índice de notas de crédito maduro e de uma avaliação ambiental, social, administrativa e creditícia completa".

A China aprovou mais de 100 bilhões de yuans (US$ 15,2 bilhões) em vendas de títulos verdes nos primeiros cinco meses do ano. O Shanghai Pudong Development Bank foi o primeiro a emitir 20 bilhões de yuans no mercado de títulos interbancários da China em janeiro e vai escolher projetos com foco na redução da poluição e na reciclagem. O arrecadado com as notas da Zhejiang Geely Holding Group vai financiar o desenvolvimento do TX5, uma versão híbrida à bateria do icônico táxi preto modelo 1958, apresentado em outubro quando o presidente chinês, Xi Jinping, visitou o Reino Unido.

Influência mútua

Embora o banco central da China e seu comitê de finanças verdes tenham se mostrado abertos a visões globais, é improvável que os órgãos reguladores imponham diretrizes internacionais, disse Mushtaq Kapasi, representante-chefe para a região Ásia-Pacífico da International Capital Market Association, que desenvolve padrões voluntários para o mercado de títulos verdes, em uma conferência em Pequim no dia 2 de junho.

"É um pouco irrealista", disse Kapasi. "É uma comunicação bidirecional. As diretrizes internacionais de títulos verdes também têm muita influência dos acontecimentos na China".

"Os padrões da China são desenvolvidos acima de tudo para o mercado local de títulos verdes", disse Gloria Lu, diretora sênior de notas de crédito corporativas da S&P Global Ratings. "Quando as instituições chinesas emitirem títulos verdes no exterior, elas adotarão padrões de aceitação mais amplos".