Mercado de títulos corporativos vê em Draghi a cura para Brexit
(Bloomberg) -- Investidores especulam que a instabilidade provocada pela decisão do eleitorado britânico de sair da União Europeia levará o Banco Central Europeu a acelerar o programa de compra de títulos corporativos, iniciado há três semanas.
Os preços de títulos corporativos denominados em euros e elegíveis a compra pelo BCE avançaram desde o resultado do referendo na semana passada, contrastando com a queda de preços dos títulos de instituições financeiras de classificação de risco similar, mas que estão excluídos do programa. Bolsas, títulos de alto risco (junk bonds) e moedas de países europeus também se depreciaram desde a votação e o mercado de novas emissões está fechado, diante das incertezas do impacto do Brexit sobre as economias do Reino Unido e da Europa.
"Acho que o BCE continuará aumentando o tamanho das compras de títulos corporativos", disse Luke Hickmore, gestor sênior de investimentos da Aberdeen Asset Management Plc, que supervisiona aproximadamente 290 bilhões de libras esterlinas (US$ 380 bilhões) em ativos. "Se conseguirmos essa estabilidade com as compras, então é provável que as emissões voltem."
O BCE só pode comprar títulos emitidos em euros por empresas não financeiras e com grau de investimento concedido por pelo menos uma agência de classificação de risco. Enquanto os investidores correm para comprar títulos elegíveis ao programa do BCE, a ampliação do spread entre os rendimentos de títulos corporativos e títulos financeiros de emissores com grau de investimento foi a maior desde o início de 2013, de acordo com dados do Bank of America Merrill Lynch.
O rendimento médio dos títulos corporativos recuou 3 pontos-base desde 23 de junho, dia do referendo no Reino Unido, e chegou a 0,84 por cento na segunda-feira, de acordo com dados do Bank of America. No caso dos títulos de instituições financeiras com elevada classificação de risco, houve aumento de 8 pontos-base. O rendimento médio dos junk bonds denominados em euros deu o maior salto desde abril, subindo 40 pontos-base para 5,05 por cento.
"No curto prazo, é difícil traçar um cenário muito ruim para créditos europeus de alta qualidade porque o BCE é um grande comprador", disse Stefan Isaacs, gestor de fundos em Londres da M&G Investments, que supervisiona mais de 245 bilhões de libras esterlinas em ativos. "Eles podem aumentar as compras se for necessário."
Até 24 de junho, a autoridade monetária havia comprado 4,9 bilhões de euros (US$ 5,4 bilhões) em títulos corporativos desde o começo do programa, no dia 8. A entrada nesse mercado faz parte do aumento dos esforços do presidente do BCE, Mario Draghi, para acelerar os investimentos e o crescimento econômico na zona do euro.
Um representante do BCE se recusou a comentar sobre o potencial para expansão das compras de títulos corporativos. Na sexta-feira, a instituição divulgou comunicado afirmando que está monitorando de perto os mercados financeiros, que está em contato próximo com outros bancos centrais e que está preparada para proporcionar liquidez adicional, se for preciso, em euros e outras moedas.
Distorções de preço
Um dos riscos potenciais dos títulos corporativos é a distorção de preços de títulos de nações periféricas, diante da crescente instabilidade política na Europa, afirmou Isaacs, da M&G. A intensificação das compras pelo BCE também pode fazer com que o fim destas mesmas compras seja ainda mais doloroso, provocando colapso dos preços, disse Jeroen van den Broek, responsável por estratégia e pesquisa sobre dívidas do ING Groep NV, em Amsterdã. "Se o BCE puder pegar mais papéis do que se pensava inicialmente, com um pano de fundo econômico um pouco pior, teremos um problema quando encerrar o programa", afirmou.
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