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Rússia pode quadruplicar sua dívida interna e sair impune

Andre Tartar e Anna Andrianova

30/06/2016 15h09

(Bloomberg) -- Se a Rússia estiver indo para uma "armadilha de dívidas", o país ainda terá muito caminho pela frente até uma disparada dos créditos ameaçar a economia, mostrou uma pesquisa da Bloomberg.

A dívida interna pode subir de seu patamar atual de cerca de 10 por cento do produto interno bruto até 40% antes de virar uma fonte de risco sistêmico, segundo 11 dos 17 economistas na pesquisa.

Após a primeira venda de títulos em euros da Rússia desde 2013, a maioria dos consultados acredita que o governo voltará novamente ao mercado internacional para oferecer um montante maior do que a colocação de US$ 1,75 bilhão feita no mês passado.

"A economia da Rússia pode digerir um aumento dos créditos locais tomados pelo governo", disse Wolf-Fabian Hungerland, economista do Berenberg Bank em Hamburgo, Alemanha. "Não haverá uma avalanche de dívida do governo, mas uma maré que subirá lentamente".

Uma crise que está devastando a economia pelo segundo ano consecutivo está derrubando as suposições sobre a Rússia e obrigando o presidente Vladimir Putin a reconsiderar seu receio em relação a dívidas quase duas décadas depois de o governo ter dado calote em US$ 40 bilhões em títulos domésticos.

Sem planos para equilibrar o orçamento antes de 2019 após o colapso nos preços do petróleo, a presidente do Banco da Rússia, Elvira Nabiullina, advertiu neste mês que das tentativas de estimular o crescimento mediante créditos estatais resultará uma "armadilha de dívidas" e que o país deveria se concentrar em atrair investimentos privados.

Triplo

O plano de 1 trilhão de rublos (US$ 15,6 bilhões) em empréstimos líquidos para o ano que vem já mais do que triplica a meta para 2016. Como o petróleo mais barato reduz a receita, o custo de serviço dos títulos chegou a 8,6% da receita orçamentária no ano passado, em comparação com menos de 2% antes de 2008, no fim do segundo mandato de Putin, segundo a Movchan Advisers em Moscou.

Contudo, o Estado não deixará os emissores corporativos sozinhos, disse a maioria dos economistas na pesquisa. O programa de empréstimos locais do governo, de 1,5 trilhão de rublos, obrigará as empresas a pagar 63 pontos-base a mais em média para vender dívida em 2017, segundo a pesquisa.

O interesse dos investidores na dívida do país aumentou desde que o Banco da Rússia iniciou um ciclo de flexibilização de cinco etapas no ano passado. O banco retomou as reduções das taxas de juros nesse mês após uma pausa de 11 meses, com um corte de 11 por cento para 10,5% na taxa básica.

Deficit

O deficit orçamentário mais amplo desde 2010 está levando o governo a tomar várias medidas, de ajustes de gastos até a venda de ativos estatais, para cobrir um buraco estimado em cerca de 3 por cento do PIB. O deficit foi de 4,3% da produção no primeiro semestre, segundo o ministro das Finanças, Anton Siluanov.

"O governo continuará 'testando o mercado' e voltará a emitir títulos em euros em 2017", disse Vladimir Miklashevsky, estrategista-chefe do Danske Bank em Helsinque. "Para evitar pressões no lado fiscal, a Rússia vai usar um rublo flutuando livremente para ajustar receita de energia em moeda estrangeira aos gastos em rublos".