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Lembranças da inflação mantêm juros reais muito altos na Rússia

Paul Abelsky e Vladimir Kuznetsov

02/08/2016 16h56

(Bloomberg) -- O que é "moderadamente apertado" na Rússia seria asfixiante na maioria dos outros países do planeta. Exceto na Bielorrússia.

As taxas de juros reais da Rússia, de 5,5 por cento, são as segundas mais altas do mundo, segundo o braço de investimentos do maior banco do país, o Sberbank CIB. Na maioria das economias que têm taxas restritivas, isso se deve a que elas estão em plena expansão, mas a Rússia, que atravessa uma recessão, se beneficiaria com uma política monetária mais flexível. No entanto, a inflação que quase dobra a meta de 4 por cento do banco central está alimentando as lembranças do crescimento de preços descontrolado que começou após o colapso da União Soviética.

Por isso a presidente do Banco da Rússia, Elvira Nabiullina, está preferindo ser conservadora com o que ela chama de uma política monetária "moderadamente apertada".

Elogiada pelo Morgan Stanley por ser a autoridade de banco central "mais ortodoxa" da Europa em desenvolvimento, ela prometeu manter a taxa básica até três pontos percentuais acima da inflação geral para segurar as expectativas. Os preços ao consumidor aumentaram 7,5 por cento anualizado em junho e a taxa de leilões a uma semana foi mantida a 10,5 por cento na sexta-feira.

"A política monetária excessivamente apertada e taxas de juros reais altas demais trazem novos riscos para a Rússia", disseram economistas do Sberbank CIB dirigidos por Anton Stroutchenevski em um relatório na segunda-feira.

Por exemplo, elas sufocam o crédito e ameaçam adiar o retorno da economia para o crescimento que o Fundo Monetário Internacional projeta atualmente para 2017. Elas também trazem o risco de atrair especuladores para um carry trade que estimularia a valorização do rublo e prejudicaria as exportações, segundo o Sberbank CIB. Fazer empréstimos em dólares e investir no rublo retornou quase 18 por cento neste ano, o segundo melhor carry trade do mundo depois do real.

Por que motivo então, é possível se perguntar. Porque uma inflação de mais de 2.000 por cento na década de 1990 ainda está muito presente na cabeça dos russos e porque a confiança na credibilidade do banco central sofreu depois de ele não ter atingido sua meta pelo quarto ano consecutivo em 2015.

Manter altas as taxas é uma forma de fortalecer a reputação da instituição desde que ela passou a estabelecer metas de inflação no fim de 2014. Ksenia Yudaeva, primeira vice-presidente do Banco da Rússia, projeta que serão necessários entre 15 anos e 20 anos de crescimento dos preços em concordância com a meta de 4 por cento para igualar a credibilidade do Banco Central Europeu. Na história moderna da Rússia, a inflação ficou perto ou abaixo desse patamar durante apenas seis meses em 2012.