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Análise: Rendimentos negativos e palavras desestimulantes

Lisa Abramowicz

03/08/2016 14h46

(Bloomberg) -- As taxas de juros negativas são tão terríveis assim? São uma "supernova" prestes a explodir. São um "horror".

Os investidores estão usando um vocabulário cada vez mais criativo para descrever seus sentimentos em relação às taxas básicas de juros historicamente baixas em todo o mundo, o que inclui as políticas de juros negativos do Japão e da Europa.

Os compradores de títulos odeiam essas políticas de juros baixos há meses e demonstram isso oralmente. É como uma batalha verbal em uma aula de debates.

Jeff Gundlach, que administra mais de US$ 100 bilhões na DoubleLine Capital, disse à agência de notícias Reuters que sua empresa foi ao "negativo máximo" com os títulos do Tesouro em 6 de julho, quando os rendimentos dos papéis de referência atingiram um novo piso. Ele também disse que "o artista Christopher Wool tem uma pintura com palavras que diz 'venda a casa, venda o carro, venda as crianças'. É exatamente assim que eu me sinto -- vendendo tudo".

Bill Gross também mantém distância das dívidas soberanas dos mercados desenvolvidos. "Em mínimas históricas, os rendimentos dos títulos soberanos não valem o risco e, portanto, não estão no topo da minha lista de compras no momento", escreveu Gross, ex-gerente de fundos de renda fixa e estrela da Pimco, atualmente gerente de recursos da Janus Capital.

A Carlson Capital, um hedge fund de US$ 8,5 bilhões, disse que "os títulos do Tesouro dos EUA estão com o preço errado" e que "o alarme está tocando".

A Fitch prevê um prejuízo de US$ 3,8 trilhões para os investidores se os rendimentos das dívidas soberanas com grau de investimento retornarem rapidamente, em todo o mundo, para os níveis de 2011. Até mesmo Donald Trump está tomando partido, chamando os juros de "artificialmente baixos".

Você sabe que está em uma batalha retórica quando Trump participa dela. E ele terá bastante companhia. Os rendimentos dos títulos soberanos ainda representam um terço do patamar de cinco anos atrás.

Mesmo no Japão, onde o banco central decepcionou os investidores decidindo não expandir as aquisições de títulos, nem reduzir os juros ainda mais, os rendimentos sobre os títulos com vencimento em 10 anos ainda estão abaixo de zero.

Uma corretora japonesa prevê que os títulos de 30 anos cairão para abaixo de zero dentro de dois anos.

Os rendimentos muito baixos são incrivelmente desagradáveis e podem subir a qualquer momento em um futuro próximo, mas é difícil enxergar um caminho fácil para sua pronta desaparição.

Se os rendimentos de referência subissem rapidamente, isto teria que ocorrer como resultado de calotes soberanos ou de mudanças radicais nas políticas monetárias ou ser uma decorrência de crescimento e taxas de inflação maiores que os esperados. Os bancos centrais parecem preparados para manter a calma dos mercados pelo máximo de tempo possível. E o crescimento avança com dificuldades.

Por isso, a menos que os bancos centrais fiquem sem munição e sejam forçados a mudar de rota por algum motivo, aparentemente as taxas básicas de juros permanecerão nesse patamar ultrabaixo por um longo período.

Os investidores poderão aliviar a ansiedade usando suas enciclopédias e ouvindo o eco de seus próprios gritos nos próximos meses.

Essa coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.