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Yellen tem tarefa mais difícil com 1% mais rico gastando menos

Jeanna Smialek

03/08/2016 14h33

(Bloomberg) -- A desigualdade de renda pode fazer com que o trabalho de Janet Yellen, presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) fique ainda mais difícil.

Os americanos ricos gastam uma parte menor do salário que as famílias com menos recursos. Como o 1% superior responde por uma fatia crescente da receita nacional, ele poderia estar reduzindo o consumo, o que prejudica o crescimento e engorda as poupanças.

Isto pode estar contribuindo para as taxas de juros baixíssimas que deixaram a presidente do Federal Reserve com pouca margem para flexibilizar a política na próxima recessão.

Um exemplo é David Levine, ex-economista-chefe do Sanford C. Bernstein & Co. que há décadas faz parte do 1%. Levine diz que "não vive de modo frugal", mas mesmo assim gasta apenas cerca de um quinto de seu salário para manter um estilo de vida muito confortável no Upper West Side, um bairro rico de Manhattan.

Isso contrasta com a vida de uma família de classe média dos EUA. Quem ganhou entre US$ 70 mil e US$ 80 mil gastou cerca de 78% da renda em 2014.

O debate sobre a desigualdade de renda, e a falta geral de crescimento salarial para a classe média dos EUA, está se intensificando como questão social devido à disputa presidencial deste ano.

Agora os economistas estão analisando mais minunciosamente o que ela significa para o crescimento e quais são suas consequências.

Ao aumentar as poupanças e reduzir a demanda geral na economia, a grande desigualdade de renda dos EUA pode ser um fator que reduz a chamada taxa de juros neutra, um conceito teórico que descreve uma taxa de juros que nem estimula nem desacelera o crescimento.

A taxa neutra é importante para os responsáveis pela política monetária: se ela se fixar em um patamar mais baixo, isso significa que a política terá menos capacidade de dar estímulo que anteriormente e que as autoridades terão menos margem para respaldar a economia através da redução dos juros na próxima vez em que ocorrer uma recessão.

Isso seria importante para todos.

"Vai haver muito interesse no modo com que podemos elevar a taxa neutra", disse Gauti Eggertsson, economista da Universidade Brown que pesquisa este assunto. "Se a desigualdade estiver interferindo aí, isso poderia indicar que a política fiscal pode desempenhar um papel".

Eggertsson e seu colega Neil Mehrotra estão tentando quantificar o quanto a desigualdade de renda pesa sobre as taxas de juros. Eles esperam publicar suas conclusões por volta do início do próximo ano em uma pesquisa que poderá ser a primeira do tipo, embora se baseie em teorias consagradas.

Os economistas têm quase certeza de que a taxa neutra caiu no rescaldo da crise financeira.

É difícil apontar um número exato para o conceito teórico, mas o presidente do Fed de São Francisco, John Williams, e seu coautor Thomas Laubach concluíram em um trabalho recente que a taxa nos EUA provavelmente tenha caído para 0,4% ajustada pela inflação em 2015, menos que os 2,3% de 2007.

Vários fatores poderiam estar provocando a queda, mas boa parte se resume à falta de demanda --e é aí que a desigualdade entra em cena.