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Análise: BC dos EUA perde o controle das condições monetárias

Mark Gilbert

05/08/2016 15h26

(Bloomberg) -- O mercado de futuros avisa que a próxima decisão de política monetária do banco central americano (Federal Reserve), em 21 de setembro, será um não evento.

Os contratos apontam aproximadamente 80% de chance de manutenção da taxa básica de juros. Porém, as consequências indesejáveis de uma mudança de regras nos fundos de renda fixa de curtíssimo prazo dos EUA significam que os custos de captação no mundo real já aumentaram o bastante para produzir aperto das condições monetárias, mesmo que o banco central não faça nada.

A decisão do Fed de elevar os juros em dezembro pela primeira vez desde 2006 - e seu primeiro movimento de qualquer natureza desde 2008 - dificilmente se repetirá neste ano, segundo as apostas realizadas nos mercados futuros. Essa probabilidade só passa de 50% em meados do ano que vem.

Os bancos centrais ajustam a taxa básica de juros de curto prazo para aumentar ou diminuir a velocidade das economias. A ideia de baixar o custo dos empréstimos é convencer consumidores e empresas a gastar e investir, acelerando a atividade econômica (e possivelmente a inflação).

Encarecer os empréstimos provoca cortes que controlam a inflação e esfriam a economia. No entanto, se o custo do dinheiro emprestado por três meses - a referência que influencia diversas linhas de crédito que não são tomadas a juro fixo, incluindo financiamento de automóveis e imóveis e crédito a empresas - não reflete o nível oficial definido pelo banco central, então a direção fica desconectada das rodas.

O motivo para a Libor - a taxa cobrada nos empréstimos entre bancos - estar cada vez menos relacionada a outros custos de captação é simples e complexo ao mesmo tempo. A explicação simples é que, para investidores que administram cerca de US$ 600 bilhões, uma mudança nas regras dos EUA para os fundos de renda fixa de curtíssimo prazo está provocando afastamento de ativos não governamentais e corrida por títulos públicos.

A complexidade surge porque os efeitos dessa mudança estão aparecendo em diferentes partes do mercado e de diferentes formas.

A taxa das notas promissórias em dólar com vencimento em 90 dias - a referência de empréstimo de curto prazo para as empresas americanas - subiu de 0,57% em fevereiro para 0,75%. No entanto, o rendimento do título do Tesouro americano com prazo de três meses caiu de 0,3% para 0,26% no período.

No caso da Libor em dólar, o motivo do aumento é menos interessante do que o ocorrido de fato. O Tesouro britânico calculou que, em dado momento, as taxas Libor em diversas moedas e de diferentes prazos eram base de avaliação de US$ 300 trilhões em instrumentos financeiros globais.

E embora os muitos escândalos envolvendo a fixação da Libor por traders e bancos de investimento sem dúvida tenham prejudicado seu status como referência de custo de captação mais importante do mundo, a Libor tem enorme influência sobre o custo do dinheiro no mundo real.

Neste sentido, os juros já subiram nos EUA. A elevação da Libor aperta as condições monetárias. Ainda que muitos participantes do mercado defendam a escola austríaca de economia e a retirada dos bancos centrais dos mecanismos de definição de juros, a mudança nas condições do mercado de financiamentos de curtíssimo prazo precisa ser considerada pelo Fed em suas próprias decisões.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do comitê editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.