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Loucura por dívida do mercado emergente pode acabar

Lisa Abramowicz

10/08/2016 14h42Atualizada em 10/08/2016 15h14

(Bloomberg) -- É difícil exagerar a quantidade de dinheiro que tem fluido para a dívida de países em desenvolvimento.

O maior fundo negociado em bolsa com foco em títulos dos mercados emergentes quase dobrou seus ativos neste ano, mostram dados compilados pela Bloomberg.

A dívida denominada em dólares das economias em desenvolvimento deverá ter seu melhor retorno anual desde 2009.

Os yields da dívida caíram para o patamar mais baixo em mais de três anos.

A boa notícia para essa alta é que o dinheiro continua entrando, o que estimula certo impulso, pelo menos por enquanto. Afinal, onde mais os investidores podem obter algo de renda com investimentos em dívida? Os yields nos mercados desenvolvidos estão rondando mínimas recorde ou estabelecendo novos pisos, o que obriga os compradores de papéis a serem mais criativos se quiserem obter alguma renda.

A má notícia é que a principal razão lógica para comprar dívida de mercados emergentes está se tornando obsoleta rapidamente. Esses títulos tiveram uma alta tão abrupta que, em vários casos, não estão oferecendo um yield muito maior que a dívida de mercados desenvolvidos com notas de crédito similares.

Considere, por exemplo, a dívida denominada em dólar com nota de grau especulativo das empresas dos mercados emergentes. Os investidores estão exigindo o menor prêmio desde 2013 por deter essas notas em relação a notas americanas com notas de crédito similares, segundo dados de índices do Bank of America Merrill Lynch.

Além disso, é claro, existe o pequeno problema dos fundamentos, que não estão melhorando muito para os países que mais se beneficiaram com a alta deste ano. A dívida mais favorecida, por exemplo, é a do Brasil, que está atolado em sua pior recessão em décadas. A segunda colocada, por pouca diferença, é a dívida da Venezuela, cuja população é obrigada a esperar em filas aparentemente intermináveis por uma chance de conseguir alimentos e remédios, às vezes sem sucesso.

Outra possível nuvem negra é a solidez da economia americana. O relatório positivo sobre emprego da semana passada levou alguns analistas a projetar que o Federal Reserve aumentará as taxas antes do esperado pelo mercado. Não seria um bom presságio para a dívida dos mercados em desenvolvimento, que se tornou cada vez mais vulnerável às mudanças na política dos EUA.

Enquanto isso, as empresas de países em desenvolvimento estão vendendo títulos a um ritmo quase recorde, com US$ 39,6 bilhões em vendas desse tipo no mês passado, mostram dados da CreditSights. Isso se soma aos mais de US$ 18 trilhões em dívida corporativa de mercados emergentes em circulação, uma soma que mais do que quadruplicou desde 2004, mostram dados do FMI.

No longo prazo, o crescimento da dívida corporativa e soberana dos mercados emergentes poderia ser um tanto problemático, possivelmente piorando qualquer contratempo na economia global. Quanto mais esse dinheiro especulativo continuar fluindo para os mercados emergentes, mais a dívida dos países parecerá vulnerável.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.