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Banco alemão cobra para guardar dinheiro de pessoa física

Jeff Black e Julia Hirsch

12/08/2016 11h09Atualizada em 12/08/2016 11h43

(Bloomberg) -- Quando o Banco Central Europeu aplicou uma taxa de juros negativa aos depósitos dos bancos, dois anos atrás, poucos pensaram que a situação chegaria tão longe.

Nesta semana, uma cooperativa bancária de poupanças alemã da cidade bávara de Gmund am Tegernsee -- com 5.767 habitantes-- disse que começará a cobrar para guardar o dinheiro de clientes pessoa física. A partir de setembro, para poupanças com mais de 100.000 euros (US$ 111.710), o banco Raiffeisen da comunidade ficará com 0,4 por cento. Trata-se de um pass through direto do nível atual da taxa de depósito negativa do BCE.

"Com nossos clientes empresariais há taxas negativas há algum tempo, então por que deveria ser diferente com as contas privadas pessoa física com grandes saldos?", disse Josef Paul, membro do conselho do banco, por telefone, na quinta-feira. "Assim como estão as coisas atualmente, as cobranças sobre os depósitos não serão estendidas a clientes com saldos inferiores" a 100.000 euros, disse ele.

O Raiffeisen Gmund am Tegernsee pode ser um banco minúsculo que está apenas aplicando penalidades a clientes ricos -- a instituição informa que menos de 140 indivíduos serão afetados --, mas em princípio a taxa de depósito negativa do BCE foi pensada para incentivar os gastos e os investimentos na lenta economia da zona do euro e não para taxar os poupadores bávaros. Um porta-voz do banco central, que tem sede em Frankfurt, preferiu não comentar.

Na verdade, ao introduzir a política de juros negativos em junho de 2014 com uma redução da taxa de depósito para menos 0,1 por cento, o presidente do BCE, Mario Draghi, disse que a medida era "para os bancos, não para as pessoas". Se os bancos decidirem transmitir a redução aos poupadores, é decisão deles. "Não somos nós", disse ele.

De lá para cá, o BCE reduziu sua taxa de depósito mais três vezes. As autoridades do banco disseram que até o momento não houve nenhum efeito colateral negativo sério como, por exemplo, clientes sacando seu dinheiro e guardando-o em outras partes. Naquela época, em meio a uma recuperação econômica moderada, o crédito bancário retomou o crescimento novamente.

Mas, há apenas duas semanas, o membro do conselho do BCE Benoît Coeuré disse que os clientes do varejo permaneciam em seus bancos devido aos sinais de que suas poupanças não seriam taxadas tão cedo.

Para saber se Coeuré tem razão -- que o Raiffeisen de Gmund am Tegernsee é um caso raro e que em uma escala mais ampla as taxas para os depositantes comuns não ficarão abaixo de zero -- é preciso ver como os bancos da Alemanha e em outras partes reagirão ao tabu de cobrar dos clientes do varejo.