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Um pesadelo de US$ 100 bi: litoral da Louisiana está afundando

Catherine Traywick

17/08/2016 17h52

(Bloomberg) -- A 1.500 metros de altura, é difícil enxergar onde ficava a linha costeira da Louisiana. Mas seguindo com os olhos o que resta dos canais petroleiros abertos há décadas, é possível ter uma ideia.

Antes eles cortavam uma densa região pantanosa, abrindo caminho para dutos ou navios. Agora, são cercados por águas abertas e margens verdes ainda visíveis enquanto o mar engole a terra.

Os canais revelam a onipresença do setor na história do Estado americano da Louisiana, mas também sinalizam um futuro sombrio: US$ 100 bilhões em infraestrutura de energia estão ameaçados pelo aumento do nível do mar e pela erosão.

Com o recuo da linha costeira, emaranhados de dutos estão expostos à corrosiva água do mar. Refinarias, parques de reservatórios e portos estão em risco.

"Todos os dutos, tudo o que foi construído nos anos 50, 60 e 70 foi desenvolvido para ser protegido pelo pântano", disse Ted Falgout, consultor de energia e ex-diretor da Port Fourchon.

A Louisiana tem um plano ambicioso -- e caro -- para proteger sua indústria elementar e seus cidadãos dessa ameaça. Porém, com um déficit iminente de US$ 2 bilhões para o ano que vem, o Estado, sem dinheiro, não tem muito o que fazer para fortalecer a costa e evitar seu afundamento.

Com isso, o setor de petróleo e gás é alvo de novas pressões para financiar projetos ambientais críticos -- por opção ou pela força.

"O setor local confiou no ambiente natural para proteger sua infraestrutura e esse ambiente, agora, está se desfazendo", disse Kai Midboe, diretor de pesquisa de políticas do Water Institute of the Gulf. "As empresas precisam entrar no páreo".

Na Louisiana, a cada ano mais de 50 quilômetros quadrados são engolidos pelo Golfo. Em Port Fourchon, que atende 90 por cento da produção de petróleo em águas profundas, a linha costeira recua cerca de 90 centímetros por mês.

Em todo o Estado, mais de 900 quilômetros de dutos poderiam ser expostos nos próximos 25 anos, segundo estudo da Universidade do Estado da Louisiana e da Rand Corporation. O setor privado é proprietário de mais de 80 por cento da costa da Louisiana.

A perda de terras amplifica outra ameaça natural: inundações relacionadas a tempestades, como a que afeta Baton Rouge no momento. Após dias de chuva pesada, em que a água saturou os diques ao longo de diversos afluentes nesta semana, a Exxon Mobil começou a desativar unidades em sua refinaria de Baton Rouge, a quarta maior dos EUA.

Na região sudeste da Louisiana, cerca de 40.000 residências foram afetadas pela inundação devastadora e pelo menos 11 pessoas morreram.

Na Louisiana, pântanos, mangues e ilhas-barreiras podem mitigar a inundação, absorvendo as chuvas como uma esponja e reduzindo a ressaca.

Mas com a erosão da terra, a ressaca avança sem obstáculos e, com isso, os sistemas de proteção contra inundações se tornaram menos efetivos.

O Estado calcula que os danos com inundações poderão aumentar em US$ 20 bilhões nos próximos anos se a linha costeira não for reforçada.

Midboe, do Water Institute e do Conselho Empresarial dos EUA para o Desenvolvimento Sustentável, lidera uma iniciativa para fazer as empresas investirem em projetos de restauração que afetam diretamente sua infraestrutura.

Neste mês, durante almoço em que foram servidos camarões frescos do Golfo na sede do Port Fourchon, em Galliano, Midboe defendeu seu ponto de vista diante de um grupo de cerca de 20 representantes da indústria.

"Os problemas são reais. Precisamos enfrentá-los agora", disse Midboe aos executivos. "O financiamento público necessário para proteger essa infraestrutura ficará muito abaixo do necessário".

Mas até o momento há poucos sinais de que as empresas pretendam gastar os milhões -- ou bilhões -- de dólares necessários. A BP, a Chevron, a Royal Dutch Shell e a Exxon Mobil preferiram não comentar sobre o tamanho de seus investimentos em projetos ambientais.

A ConocoPhillips, maior proprietária de terras pantanosas privadas do Estado, disse que um misto de recursos públicos e privados foi usado para financiar 77 projetos de restauração, que reforçaram 70.000 hectares de seus próprios terrenos pantanosos. Outros 18 projetos estão em andamento, segundo a porta-voz da empresa, Andrea Urbanek.