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Bancos chineses vão bem, obrigado. Basta olhar os dados: Gadfly

Christopher Langner

24/08/2016 09h42

(Bloomberg) -- Os bancos chineses têm muitos problemas. Muitos mesmo, e dos grandes. Contudo, apesar de todas as manchetes negativas, o sistema financeiro do país não está nem perto de uma implosão e, em muitos aspectos, é mais robusto do que o de alguns países desenvolvidos.

Os bancos da maior economia da Ásia mantêm uma enorme quantidade de dívida, o que não é nenhuma maravilha para a sua cobertura de capital. Considerando a velocidade do aumento dos empréstimos com incumprimento, as posições de capitais dos bancos provavelmente não sejam adequadas.

No entanto, isto não é sinal de iminência de uma onda de calotes. A cobertura de capital alta pode ser um indicador impreciso de saúde. O Washington Mutual, por exemplo, adquirido pelo JPMorgan por uma pechincha em setembro de 2008, divulgou um coeficiente de capital baseado no risco de 12,3 por cento no fim de 2007. Sob essa perspectiva, era um banco sólido. Mas ele acabou sendo expropriado pelas autoridades porque enfrentava uma crise de liquidez, mesmo fator que levou o Lehman Brothers à falência.

E no que diz respeito à liquidez, os bancos chineses estão bem. Em 67,3 por cento, a mediana do índice de empréstimos por depósitos é a mais baixa entre as das principais economias. Quanto menor esse número, menor é o risco de uma instituição não ter dinheiro suficiente para cumprir suas obrigações.

O Lehman Brothers dependia muito de recursos captados por meio dos mercados, seja por meio de papel comercial ou de securitização, e isso acelerou sua morte. Os bancos chineses dependem, em sua maioria, dos bons e velhos depósitos dos clientes em seus cofres.

Os bancos da China também estão entre os mais lucrativos do mundo graças às taxas de juros reguladas.

Isso significa que, se eles pararem de emprestar e deixarem de pagar dividendos, poderão construir rapidamente suas coberturas de capital.

Mas o problema principal é a dívida. Os empréstimos escondidos nos balanços dos bancos, que fazem parte dos investimentos de curto prazo, e aqueles que estão fora dos balanços, no sistema bancário sombra, estão avançando. Eles somam 34,4 trilhões de yuans (US$ 5,2 trilhões), mais de cinco vezes o montante de empréstimos subprime em circulação nos EUA na época da crise financeira de 2008.

No entanto, em vez de enfrentarem um colapso similar ao dos EUA e da Europa, o mais provável é que os bancos da China emitam ações adicionais e reduzam os empréstimos, e eles já começaram a implementar as duas medidas.

Isso deverá ser doloroso e alguns bancos provavelmente serão adquiridos ou resgatados por Pequim. Mas não há nenhuma falência bancária no horizonte.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Para entrar em contato com o repórter: Christopher Langner em Cingapura, clangner@bloomberg.net, Para entrar em contato com os editores responsáveis: Telma Marotto tmarotto1@bloomberg.net, Daniela Milanese

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