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Análise: Como a mensagem da presidente do BC dos EUA deveria ser

Narayana Kocherlakota

24/08/2016 12h07

(Bloomberg) -- Em dezembro, as autoridades do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) indicaram que pretendiam elevar as taxas de juros em um quarto de ponto percentual a cada três meses durante os três anos seguintes. Essa programação já está defasada, e os investidores e a população não sabem como o Fed planeja administrar a economia.

Quando a presidente do Fed, Janet Yellen, discursar no fim desta semana na conferência anual do Fed de Kansas City, em Jackson Hole, ela terá que oferecer um plano muito mais duradouro e convincente.

Ela poderia começar por repudiar a noção de que os próximos movimentos das taxas de juros seguirão algum tipo de programação. Em um ambiente econômico que muda constantemente, o Fed não pode prometer que vai agir de acordo com um calendário pré-estabelecido.

Insinuar o contrário afetou a credibilidade do Fed nos mercados e, não menos importante, com o Congresso dos EUA.

A prática do Fed de divulgar à população projeções oficiais das mudanças do juro a cada três meses não ajuda neste quesito. Yellen deveria deixar de lado qualquer noção de que essas projeções têm alguma relevância para a evolução da política econômica real.

Se não o calendário, o que então deveria influir nas decisões do Fed? Não basta dizer que as autoridades vão levar em consideração um amplo leque de indicadores econômicos.

Em vez disso, Yellen deveria identificar alguns fatores importantes. Eu vejo três que foram particularmente relevantes em 2016: as pressões inflacionárias, os riscos de enfraquecimento econômico e o mercado de trabalho.

A inflação continua abaixo da meta de 2 por cento do Fed, e isso acontece há mais de quatro anos. A ata da reunião sobre política econômica de julho do banco central sugere que os funcionários do Fed projetam que a inflação continuará abaixo de 2 por cento até 2018 -- uma situação que dificilmente justifica um aumento dos juros.

Os riscos de queda são especialmente importantes em um momento em que o Fed, com taxas de juro já perto de zero, tem uma capacidade limitada para mitigar mais choques adversos.

A melhor resposta é manter os juros baixos agora, para que a economia esteja o mais resiliente possível quando algum choque novo ocorrer.

A situação do mercado de trabalho é mais difícil de analisar. A taxa de desemprego, tradicional indicador da estagnação do mercado de trabalho para o Fed, se mantém em torno de 5 por cento há quase um ano. Uma estabilidade assim -- perto de mínimas históricas -- normalmente sugere que a economia está perto do pleno emprego, ponto a partir do qual a inflação tende a se tornar um problema.

No entanto, apesar do envelhecimento da população, os dados do mercado de trabalho continuaram aumentando a uma proporção de 200.000 por mês e a participação na população ativa vem crescendo nos últimos 12 meses -- e tudo isso indica que o mercado de trabalho ainda pode melhorar. Então, por que não permitir isso adiando os aumentos dos juros?

Diante desses fatores, a decisão do Fed de manter os juros baixos em 2016 faz muito sentido. Yellen deveria explicar esta conexão e enfatizar que esses indicadores provavelmente continuarão sendo centrais para as decisões do banco central nos próximos dois anos.

Quando era presidente do Fed, Ben Bernanke aproveitou seus discursos em Jackson Hole tanto em 2010 quanto em 2012 para descrever os contornos do caminho que a política monetária dos EUA provavelmente seguiria no futuro.

Esses discursos deram orientações úteis à população -- e à política econômica do Comitê de Mercado Aberto do Fed (do qual que era membro). Espero que Yellen ofereça esse tipo de orientação nesta semana.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.