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Análise: Economia tem problema com deflação

Mark Gilbert

25/08/2016 10h34

(Bloomberg) -- Jacob Rothschild, o bilionário herdeiro daquela que sem dúvida é a maior dinastia bancária da Europa, diz que estamos passando pelo "maior experimento de política monetária da história mundial". Mas existe uma grande falha nesse experimento: o mundo real não está respondendo à política como os manuais dizem que deveria. Além disso, parece cada vez mais evidente que os medos que levaram às taxas de juros zero e à flexibilização quantitativa foram, na melhor das hipóteses, exagerados, se não totalmente injustificados.

Esse dilema econômico é fácil de analisar. Em quase todas as partes, os bancos centrais aprovaram uma meta de inflação de 2 por cento como se ela significasse um nirvana financeiro. Mas nas maiores economias do mundo os preços ao consumidor estão crescendo muito mais lentamente do que esse ideal arbitrário.

A Espanha surgiu como garota-propaganda da deflação. Os preços caíram 0,6 por cento em julho, o 12º mês consecutivo do país sem aumento da inflação. Os manuais sugerem que quando há um período prolongado de queda dos preços -- a definição de deflação --, a economia pode rapidamente ficar fora de controle. As empresas e os consumidores adiarão as compras na expectativa de que os produtos e serviços serão ainda mais baratos no futuro.

Por isso, se a Espanha apresentou uma taxa de inflação média de -0,4 por cento desde o fim de 2013 e registrou preços mais baixos em 23 dos últimos 30 meses, os consumidores devem ter respondido evitando as lojas e reduzindo o consumo, certo? Errado.

O aumento anual médio das vendas do varejo na Espanha ficou em 1,7 por cento nos últimos três anos. O gasto subiu 5,8 por cento em junho, mesmo com uma queda de 0,8 por cento nos preços. Por isso, a perspectiva de produtos mais baratos no futuro não parece estar impedindo os espanhóis de se permitirem um pouco de terapia de compras (ou muita).

E então, está ocorrendo algo mais na economia espanhola que possa explicar essa atitude arrogante em relação à queda dos preços? (Além daquilo que poderia ser visto como óbvio -- para quem não é economista --, de que a maioria das pessoas recebe os preços mais baixos como uma oportunidade de comprar mais).

Bem, um grande resultado foi a queda da taxa de desemprego. Embora o desemprego de junho, de 19,9 por cento, ainda seja bastante alto, o índice vem caindo de forma constante em relação ao pico de mais de 26 por cento do início de 2013.

E se você comparar essa queda do desemprego espanhol com o indicador de consumo doméstico da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, aparece uma tendência interessante.

Mover-se do específico para o geral é sempre arriscado. O que está acontecendo na economia da Espanha pode ser um fenômeno particular explicado por suas circunstâncias singulares e não se aplicar a um país diferente. Mas a evidência econômica na Espanha nos leva a pensar se o temor em relação à deflação -- e a luta global sem precedentes para evitar esse fenômeno dos preços -- pode acabar provando ser muito barulho por nada.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial da Bloomberg LP e de seus proprietários.