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Altos dividendos tornam empresas de luxo alvo de venda de ações

Roxana Zega

16/09/2016 13h16

(Bloomberg) -- Os dividendos mais altos oferecidos por algumas fabricantes em dificuldades de produtos sofisticados talvez seja um luxo que elas não serão capazes de manter.

É o caso de empresas como Richemont e Tod's, ambas com uma queda de mais de 20% neste ano e ambas ainda diretamente na mira de vendedores a descoberto. Expectativas persistentes de que elas irão elevar os dividendos mesmo após reportar queda nas vendas estão atraindo investidores pessimistas.

"Embora seus negócios tenham diminuído em alguns dos principais mercados de crescimento, essas empresas continuam aumentando seus dividendos", disse Simon Colvin, analista da IHS Markit em Londres. "Não vai demorar muito para que o dividendo se torne insustentável.

É preciso ter muita cautela para investir em dividendos -- esse rendimento alto às vezes vem com um risco".

O setor sofreu com a redução da demanda chinesa e os atentados terroristas prejudicaram o turismo e os gastos dos turistas em produtos de luxo. Mas mesmo com a redução do crescimento dos resultados e das vendas, que poderá piorar, segundo o UBS, muitas empresas elevaram seus dividendos para tentar atrair investidores, escreveram analistas do Société Générale em nota no mês passado.

Essa estratégia não funcionou nos últimos 12 meses e um índice de ações do Morgan Stanley que monitora empresas com pagamentos altos e sustentáveis caiu 16%, três vezes mais do que o índice Stoxx Europe 600.

Embora a Richemont tenha projetado na quarta-feira uma queda de 45% dos lucros operacionais no primeiro semestre, os analistas acham que a empresa elevará seu dividendo pelo oitavo ano.

Para a Tod's, que registrou o sexto semestre de queda dos resultados, a projeção é de que os pagamentos aumentarão 15%.

Essas empresas têm alguns dos retornos em dividendos mais generosos no BI Europe Luxury Goods Top Peers e a taxa de aluguel de ações -- que é um indicativo de venda a descoberto -- de mais de 6%, é uma das mais altas, de acordo com dados compilados pela Bloomberg e pela Markit.

Mesmo que as empresas tenham conseguido manter pagamentos altos até agora, elas serão atingidas pela piora das vendas, de acordo com Benno Galliker, trader do Luzerner Kantonalbank em Lucerna, Suíça.

"É extremamente difícil reduzir o dividendo, porque isso mostra que as coisas vão muito mal, então as empresas tentam preservá-lo enquanto têm dinheiro", disse ele. "Mas não vemos uma recuperação rápida aqui. Já não é mais tão sexy usar o mais novo Rolex ou Patek Philippe na China, então voltar para o ritmo de crescimento observado há três anos vai ser muito difícil".