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Gestoras de perfil ativo perdem onda emergente de US$ 50 bi

Maria Levitov

30/09/2016 15h11

(Bloomberg) -- Quando se abre o capô, o motor da disparada dos mercados emergentes neste ano mostra que muitos investidores ainda não estão convencidos sobre a firmeza de uma recuperação econômica nos países em desenvolvimento.

Apesar da entrada líquida de US$ 50 bilhões para fundos de renda fixa e variável de mercados emergentes em 2016, somente 20% foram para ações – em sua totalidade para fundos negociados em bolsa (ETFs) e que acompanham índices, que têm baixo custo e são administrados de maneira passiva. Gestoras de carteiras de renda variável que atuam ativamente amargaram saídas de quase US$ 11 bilhões no ano até o dia 23 de setembro, segundo a empresa de dados EPFR Global. Essas instituições que fazem a seleção das ações cobram mais e geralmente atraem clientes somente quando eles estiverem convencidos de que a oportunidade de investimento faz jus.

A preferência dos fluxos por títulos e estratégias passivas sinaliza que, embora as principais economias emergentes como Brasil e Rússia devam sair da recessão no ano que vem, os investidores não estão prontos ainda para apostar que esse crescimento será rápido o suficiente para produzir a recuperação dos lucros das empresas. A projeção de lucro por ação das componentes do MSCI Emerging Markets Index ainda está 18% abaixo da média dos últimos cinco anos, mesmo depois da alta de 2,4% em 2016.

"Os investidores veem oportunidades, mas têm ressalvas quanto às perspectivas de prazos mais longos para renda variável de mercados emergentes", disse Maarten-Jan Bakkum, estrategista sênior da NN Investment Partners, em Haia, com cerca de $ 219 bilhões em ativos. "Para investir em um fundo administrado de forma ativa e com uma taxa de administração maior, a convicção em relação a prazos mais longos também deve ser maior." Ele recomenda a compra de ações da Índia e da Indonésia.

Ultrapassando os concorrentes

As bolsas dos mercados emergentes se recuperaram 15% neste ano e caminham para superar as bolsas dos países ricos pela primeira vez desde 2012. Quando as bolsas começaram a subir neste ano, muitos gestores ainda mantinham posições inferiores às referências. A maneira mais rápida para reverter posições com peso abaixo do recomendado é comprar ETFs, disse Thomas de Saint-Seine, que administra cerca de US$ 4,2 bilhões em ações na RAM Active Investments, em Genebra.

"Muitos investidores institucionais estavam com peso inferior neste mercado e agora estão se ajustando", afirmou.

Segundo estimativas compiladas pela Bloomberg, o crescimento médio das economias emergentes provavelmente vai chegar a 4,9% em 2017, o maior em quatro anos, perspectiva que justifica o avanço das ações. Em 2010, foi atingida a marca de 7,8%. O Goldman Sachs Group declarou neste mês que não espera volta aos "dias de glória" tão cedo, uma vez que o crescimento chinês é o mais lento em um quarto de século.

Os investidores ainda podem encontrar refúgio em ações dos países emergentes, fugindo de taxas de crescimento abaixo de 2% nos países desenvolvidos e dos lucros menores das empresas europeias.

Embora o MSCI Emerging Markets recuasse 0,9% na sexta-feira, os analistas projetam quase 10% de ganho nos próximos 12 meses, superando os 1.000 pontos pela primeira vez desde junho de 2015, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Este avanço pode começar a beneficiar gestores de perfil ativo mais do que os de ETFs. A MSCI afirmou na quarta-feira que alguns países e setores estão começando a ter melhor desempenho do que outros. Quando há disparidade de taxas de retorno dentro de um índice, os gestores ativos têm oportunidade de alcançar desempenhos mais elevados, pois podem descartar ações com expectativa de desempenho inferior, enquanto os ETFs precisam acompanhar uma referência.

No mês passado, a RAM dispensou clientes potenciais para seu fundo Systematic Emerging Markets Equities, de US$ 2,9 bilhões, depois de receber US$ 400 milhões líquidos em investimentos neste ano. Thomas de Saint-Seine explicou que aloca mais de 50% dos ativos em pequenas e médias empresas que são menos fáceis de negociar do que ações de grandes corporações, e que a expansão do fundo poderia trazer volatilidade.