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Análise: Pare de se preocupar com o lucro magro da Amazon

Shira Ovide

28/10/2016 14h46

(Bloomberg) -- Quando todo mundo pensava que a Amazon estava entrando em uma floresta exuberante de lucros, ela voltou a seu deserto de resultados áridos. Tem sido inteligente deixar a Amazon ir aonde ela quiser, então os investidores deveriam parar de esperar lucros abundantes.

Após cerca de nove meses de lucros consideráveis -- para os padrões baixos da Amazon --, este é o melhor exemplo de que a empresa voltou a seu velho modo de gastar em investimento em detrimento dos lucros: o segmento de nuvem Amazon Web Services (AWS) gerou mais receita operacional que toda a empresa: US$ 861 milhões em comparação com US$ 575 milhões como um todo. (As operações internacionais da Amazon registraram receita operacional negativa, o que derrubou o total.)

A Amazon registrou lucro líquido de US$ 252 milhões, o triplo da cifra do terceiro trimestre de 2015, mas ainda assim uma decepção considerável.

A Amazon também projetou lucro operacional do quarto trimestre abaixo das altas expectativas de Wall Street. As ações caíram cerca de 5% nas negociações pós-pregão como resultado.

Mas por que alguém está surpreso com o fato de a Amazon não ser muito lucrativa novamente? Ela avisou que isso iria acontecer.

Em sua conferência trimestral de divulgação de resultados em julho, executivos disseram que a Amazon abriria 18 armazéns para estoque no terceiro trimestre, em comparação com seis no mesmo período de 2015.

A empresa queria garantir que conseguirá lidar com uma grande quantidade de pedidos no fim do ano depois de ter tido alguns contratempos no ano passado que elevaram os custos.

A Amazon também informou que seus investimentos em programação de vídeo web praticamente dobrariam no segundo semestre em comparação com os últimos seis meses de 2015. E a empresa afirmou que estava investindo recursos no comércio eletrônico na Índia.

Todos esses gastos implicaram que seu lucro operacional como fatia da receita deu um passo atrás em relação aos 4,2% do trimestre passado para 1,8 por cento no terceiro trimestre.

Na realidade, o terceiro trimestre da Amazon tende a apresentar margens e lucros operacionais limitados porque a empresa aumenta o estoque e faz outros preparativos para a temporada de fim de ano. A margem operacional de 1,8% informada na quinta-feira foi a melhor margem da Amazon em qualquer terceiro trimestre desde 2010.

O relatório trimestral e a projeção para o fim de ano da Amazon deveriam fazer com que os investidores repensem suas expectativas relativas à empresa. Sim, durante os primeiros nove meses de 2016, a Amazon já tem mais lucro operacional do que teve em qualquer outro ano de sua história. A margem de lucro operacional deverá ser a mais alta da empresa desde 2010 se seguir a trajetória dos primeiros nove meses do ano.

Mas é razoável esperar -- como a média dos analistas de Wall Street espera -- que o lucro operacional da Amazon vai quase dobrar no próximo ano? E que depois quase dobrará de novo em 2018? Provavelmente não.

Dito isso, a Amazon mais que justificou sua estratégia de investir praticamente cada dólar dos lucros em novos empreendimentos. A empresa se tornou a quarta maior do mundo segundo o valor de mercado porque está se expandindo em todos os cantos concebíveis dos negócios e está absorvendo uma fatia maior dos gastos de consumidores e empresas.

A Amazon gera cerca de um quarto do total das vendas do comércio eletrônico varejista dos EUA e está devorando participação das lojas tradicionais também. O AWS mudou a cara da empresa e do setor tecnológico.

Armazenar, embalar e despachar bens para outros comerciantes se tornou um grande negócio para a Amazon e talvez sirva de modelo para suas ambições de se tornar uma megaempresa de frete, como a UPS. Todas essas iniciativas exigiram grandes investimentos e compensaram.

Seus lucros limitados no varejo são mais um motivo para a Amazon ter investido na unidade do AWS, de margem alta. Na verdade, a margem operacional subiu nos negócios da nuvem em relação aos trimestres anteriores, sinal de que talvez a concorrência da Microsoft e do Google não esteja sendo tão prejudicial, se é que está prejudicando.

O crescimento da receita e a expansão às custas dos lucros atuais sempre foram centrais na história da Amazon. Os investidores simplesmente começaram a sintonizar essa mensagem, e é hora de escutar.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.