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Trafigura afirma não participar de contratos alvos da Lava Jato

Andy Hoffman, Giles Broom e Hugo Miller

07/11/2016 13h44

(Bloomberg) -- A Trafigura Group se distanciou do conselheiro preso no Brasil sob acusações de envolvimento em pagamento de propinas e lavagem de dinheiro na Petrobras, afirmando que os contratos que são alvos da investigação não envolviam a trading de commodities.

As "acusações substantivas" feitas pelo Ministério Público Federal no Brasil contra o membro do conselho de administração da empresa Mariano Marcondes Ferraz "estão relacionadas a determinados contratos de armazenamento fechados entre a Petrobras e a Decal do Brasil, no Porto de Suape", afirmou a Trafigura em carta enviada a seus sócios bancários em 2 de novembro. Ferraz é sócio-fundador da empresa de armazenagem e movimentação de granéis líquidos Decal e possui participação acionária na companhia, informou a Trafigura na carta vista pela Bloomberg News.

"Notamos que a Petrobras informou (por meio de seu departamento jurídico) ao procurador-geral que a Trafigura não participava desses contratos", informou a Trafigura.

A trading enviou a carta a seus bancos vários dias antes de o escritório do procurador-geral suíço informar que uma "investigação criminal" havia sido aberta envolvendo um executivo da Trafigura e a Operação Lava Jato. Um porta-voz do procurador-geral suíço preferiu não fazer mais comentários sobre a investigação, reportada primeiro pelo jornal suíço Le Temps.

"Pelo que conseguimos extrair da leitura dos documentos da Procuradoria e das reportagens na imprensa, parece que as acusações substantivas contra Mariano Marcondes Ferraz estão surgindo do relacionamento de sua empresa privada com a Decal do Brasil", disse uma porta-voz da Trafigura, em comunicado enviado por e-mail. "A Trafigura não foi abordada pelas autoridades suíças em relação a essas acusações."

Pagamento de fiança

Após audiência em 3 de novembro, Ferraz concordou em pagar fiança e permanecer no Brasil enquanto as autoridades investigam seu suposto envolvimento no esquema de corrupção.

O juiz Sérgio Moro aceitou liberar Ferraz após o pagamento de fiança de R$ 3 milhões (US$ 930.000), segundo decisão da semana passada. Pelo acordo, Ferraz terá seus passaportes apreendidos para evitar que ele saia do país, não poderá mudar seu endereço no Brasil e precisará cooperar com a investigação, segundo a decisão.

Ferraz, membro desde 2014 do conselho de administração da Trafigura, que tem sede em Cingapura, e CEO da empresa afiliada DT Group, foi detido em 26 de outubro sob a suspeita de recolher propinas e participar de corrupção e lavagem de dinheiro. A Polícia Federal o prendeu no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, quando ele se preparava para embarcar em um voo para Londres.

O ex-executivo da Petrobras Paulo Roberto Costa disse aos investigadores que Ferraz pagou mais de US$ 800.000 em propinas entre 2011 e 2013 para conseguir contratos com a petroleira, segundo comunicado emitido pelo MPF quando Ferraz foi preso.

Um advogado de Ferraz preferiu não comentar sobre o caso.