IPCA
0,83 Mai.2024
Topo

Vinícolas italianas aderem a colheita mecânica de uvas

Tommaso Ebhardt

08/11/2016 14h28

(Bloomberg) -- Durante séculos os vinhos italianos evocaram camponeses com cestas de vime colhendo uvas e aldeões descalços pisando os frutos. Mas o segredinho do setor é que, discretamente, a produção de vinho está se mecanizando, até mesmo em regiões emblemáticas como as colinas de Chianti, na Toscana.

Na Marchesi Antinori, produtora dos vinhos "supertoscanos" Tignanello e Solaia, vendidos por US$ 95 a US$ 225 a garrafa, gigantescas colheitadeiras de uvas atravessam ruidosamente os vinhedos dos rótulos populares da empresa.

O chefe da vinícola diz que a colheita mecânica agora é obrigatória para sua marca mais vendida, Santa Cristina, e para outros produtos básicos, que respondem por mais de 50 por cento de sua produção de mais de 20 milhões de garrafas por ano. Mas, embora isso tenha acontecido na parte inferior do mercado, é improvável que se repita com suas adegas mais famosas.

"A produção de vinho é como a indústria automotiva: a automação é necessária para os produtos de massa, mas para os produtos de luxo, como um carro esportivo Ferrari ou uma garrafa de Tignanello, o trabalho artesanal e o toque à mão continuam tendo um papel decisivo", disse Renzo Cotarella, diretor-executivo da Antinori, em entrevista na futurista sede da empresa, entalhada nas colinas. "A qualidade da colheita mecânica é muito similar à manual. A barreira a ser superada é mais cultural."

A empresa que controla mais de 50% do nicho do mercado de maquinário para vinícolas é a CNH Industrial, separada da fabricante de automóveis Fiat em 2011. Sua unidade New Holland Braud comercializa mais de 400 colheitadeiras de uvas por ano, com preço a partir de 200 mil euros (US$ 220 mil), e gera margens de lucro similares à de um carro esportivo Ferrari básico, disse Carlo Lambro, presidente da marca New Holland Agriculture.

Trata-se de um pequeno resultado positivo no setor de máquinas agrícolas, que sofre com a queda dos preços das commodities.

As colheitadeiras de uvas foram introduzidas na França e nos EUA nos anos 1960 e a Braud fabricou sua primeira colheitadeira de uvas com propulsão própria em 1975 na França, país que continua sendo, de longe, seu maior mercado na Europa.

Devido à resistência dos produtores e às dificuldades impostas pelo terreno, a adoção de máquinas pelos italianos tem sido lenta. Na última contagem, de 2012, eles possuíam 2.600 colheitadeiras, contra 23 mil na França, segundo pesquisa da Universidade de Bolonha.

"Estamos diante de um bom ano para as colheitadeiras de uva e esperamos que esse impulso positivo continue", disse Lambro, em entrevista, na vinícola Marchesi Antinori, na região de Chianti. "A automação continuará se espalhando."

Lambro disse que a CNH Industrial teve uma margem de lucro de cerca de 20% com as colheitadeiras, sem dar detalhes. A CNHI é controlada pela bilionária família italiana Agnelli, que é também a maior acionista da Fiat Chrysler e da Ferrari por meio da holding Exor.

Os tratores ampliam a produção fortemente. Uma máquina demora duas horas para colher um hectare. Já a colheita manual precisa de 60 horas para cobrir a mesma área.