Fundamentos voltam a importar nas bolsas puxadas por Trump
(Bloomberg) -- O presidente eleito que odeia experts está colaborando para que as opiniões deles voltem a ser consideradas.
É o que indicam dados recentes do Citigroup, mostrando que as opiniões dos analistas estão se movendo enfaticamente na mesma direção do mercado acionário, após um longo período no qual os ganhos persistentes das ações pareciam entrar em choque com a análise dos fundamentos.
No mundo todo, as revisões nas projeções de lucro subiram 10 por cento na semana passada, puxadas por EUA e Japão. O salto foi maior do que o aumento de 7 por cento da semana anterior, que já havia sido o mais intenso desde maio de 2011, de acordo com o índice de revisões do Citi, conhecido pela sigla ERI e compilado semanalmente com base no All-Country World Index, da MSCI.
Isso ocorre enquanto diversas bolsas batem recordes. Não é um espanto. As bolsas subiram quando os analistas disseram que subiriam: "Tradicionalmente, o ERI é um indicador coincidente com os preços das ações", escreveram analistas do banco liderados por Robert Buckland em relatório divulgado na semana passada.
Contudo, nos últimos anos, os analistas muitas vezes foram pegos de surpresa pela direção dos mercados. A relação "pareceu ruir em 2012-15, quando as bolsas globais avançaram, apesar do rebaixamento nas estimativas dos analistas", de acordo com a equipe de Buckland.
Mesmo com a piora das projeções de lucro, as bolsas globais dispararam naquela época. Operações de recompra de ações e estímulos dos bancos centrais diminuíram a importância de notícias específicas a empresas e setores na movimentação das ações. O S&P 500 ganhou, na média, 13 por cento em cada um daqueles quatro anos, desafiando prognósticos sombrios.
A baixa dispersão nos lucros e o aumento da correlação entre ações e títulos transformaram o mercado de ações de grandes empresas dos EUA em propagador das benesses macroeconômicas e especialmente monetárias, de acordo com um relatório divulgado pelo Goldman Sachs Group em outubro.
Agora surgem boas notícias para gestores de perfil ativo e para quem escolhe cuidadosamente as ações: os preços estão subindo junto com as projeções de lucro das empresas.
A ascensão de Trump levou analistas a elevar projeções de lucro para setores sensíveis a juros em detrimento dos setores defensivos. Já a depreciação do iene e do euro em relação ao dólar impulsionou as expectativas de lucro para empresas do Japão e da Europa Continental.
O estímulo monetário alterou a dinâmica convencional dos mercados a ponto de ser notícia para os analistas do Citi o ressurgimento da relação intuitiva nas bolsas. Afinal, os múltiplos das ações devem refletir o valor descontado do fluxo de caixa futuro das empresas.
Ainda não se sabe se outras mudanças nos mercados globais trazidas por Trump vão normalizar outras dinâmicas nada convencionais que pesam sobre as bolsas. Um exemplo é o múltiplo elevado de diversas ações graças a recompras financiadas com dívida, apesar do crescimento pífio dos lucros e do nível recorde de alavancagem das empresas nos EUA.
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