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Alta da inflação na Europa pode não ficar a gosto de Draghi

Carolynn Look e Alessandro Speciale

02/01/2017 10h41

(Bloomberg) -- Mario Draghi vai provar mais inflação, mas não do sabor que ele gostaria.

A alta dos preços do petróleo e a desvalorização do euro indicam que as projeções que o presidente do Banco Central Europeu divulgou há menos de um mês precisarão ser revisadas para cima. É boa notícia, por um lado, porque a meta de inflação não é atingida há quase quatro anos. Mas a alta dos preços tende a mascarar a contínua fraqueza da economia doméstica.

Avanços maiores nos preços ao consumidor podem intensificar a dissonância dentro do Conselho Geral do BCE, com alguns integrantes defendendo a retirada gradual do estímulo monetário e outros argumentando que a retomada ainda é frágil, especialmente diante dos eventos políticos com potencial para abalar a confiança.

Em 8 de dezembro, o BCE concordou em ampliar o programa de compra de títulos, embora em ritmo mais lento. Mas, em seguida, Draghi alertou que a "incerteza prevalece em todo lugar" e afirmou que as compras seriam aumentadas, se necessário.

"Há uma dificuldade em fazer projeções com um nível tão alto de incerteza porque os maiores riscos provavelmente ainda são de calibre político", disse Anatoli Annenkov, economista sênior do Société Générale, em Londres. "Neste sentido, provavelmente seria sábio o BCE adotar uma abordagem gradual para a perspectiva de inflação."

De olho no populismo

A programação atual é que as compras em grande escala de títulos de dívida, iniciadas em março de 2015, durem pelo menos até o fim de 2017, e que o ritmo mensal recue de 80 bilhões de euros atualmente para 60 bilhões de euros (US$ 63 bilhões) em abril.

Isso quer dizer que as compras ainda estarão acontecendo quando forem realizadas eleições na Holanda, França e Alemanha e possíveis votações na Itália e Grécia --todas com a possibilidade de ganhos para partidos populistas e contrários ao euro. As negociações para a saída do Reino Unido da União Europeia e o início da presidência de Donald Trump nos EUA aumentam os riscos, sustentando a cautela defendida por Draghi.

Paralelamente, o aumento dos custos de energia tende a elevar a inflação. O petróleo ficou 25% mais caro desde novembro, em parte por causa do acordo dentro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo para limitar a produção pela primeira vez em oito anos.

Este avanço não foi contemplado nas previsões do BCE, que apontam para alta dos preços ao consumidor de 1,7% em 2019 --não tão longe da meta de pouco abaixo de 2%.

Dados que serão divulgados em 4 de janeiro provavelmente mostrarão um salto da inflação em 12 meses de 0,6% em novembro para 1% em dezembro, segundo pesquisa da Bloomberg com economistas.

Qualquer sinal de que a meta de estabilidade de preços do BCE esteja ao alcance pode levar alguns integrantes do Conselho Geral a defender o fim do afrouxamento quantitativo.

Em entrevista ao jornal Bild publicada em 26 de dezembro, o presidente do Bundesbank (banco central alemão), Jens Weidmann, declarou que esperar até 2019 para apertar a política monetária "seria tarde demais".

"Precisamos agir de forma que olha para frente", ele disse. "Isso significa puxar as rédeas assim que se considerar que a inflação está em trajetória sustentável na direção da nossa meta."