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Bonança das ações de bancos dos EUA não evitará demissões

Hugh Son

02/01/2017 10h08

(Bloomberg) -- As ações dos bancos dos EUA estão nas nuvens desde a vitória de Donald Trump, que impulsionou as expectativas de lucro para o setor. Mas para quem trabalha no ramo, a batalha diária para manter o emprego não ficará mais fácil.

O quadro de impostos menores, juros maiores e regulamentação menos severa que se espera sob o novo presidente pode elevar os lucros dos bancos americanos em 22 por cento, na mediana, em 2018, porém as instituições continuarão reduzindo custos ao aplicar novas tecnologias para substituir agências e funcionários, de acordo com analistas do Morgan Stanley.

E embora a alta dos juros possa ampliar as margens dos bancos, também pode esfriar a demanda por empréstimos imobiliários e emissão de títulos corporativos. O que também significa menos necessidade de pessoal.

"É difícil imaginar a expansão dos empregos em finanças", disse Fred Cannon, chefe de pesquisas da Keefe, Bruyette & Woods. Os ganhos oriundos de "juros maiores vão chegar ao lucro líquido sem aumentar as despesas".

O nível de emprego nos grandes bancos americanos vem encolhendo desde a crise financeira. Primeiramente, por causa da consolidação, e depois porque os custos legais foram se acumulando e as receitas ficaram estagnadas.

O ritmo de demissões diminuiu e ficou abaixo de 19.400 vagas eliminadas nos primeiros 10 meses de 2016, mas os analistas não antecipam uma retomada por causa do avanço da automação. Firmas como Bank of America e Morgan Stanley estão tocando planos de cortes de custos que dificilmente serão abandonados, mesmo que a disparada das ações após a eleição de Trump sinalize receitas maiores.

A eleição do bilionário em novembro fez com que muitos analistas revisassem suas projeções. Foi uma reversão em relação ao ocorrido no início de 2016, quando as ações do setor bancário derrapavam e o analista Mike Mayo, da CLSA, via maior probabilidade de reestruturação do Bank of America, até com um desmembramento das operações da instituição.

Seis meses depois, um relatório de pesquisa de 264 páginas, do Berenberg Bank, afirmava que os bancos americanos estavam "atolados" em um cenário de juros baixos e dívidas que permaneceria durante anos.

Agora, analistas como Paul Miller, da FBR Capital Markets, se dizem mais otimistas em relação às ações de bancos do que em qualquer outro momento da última década. Apesar da alta de 22 por cento do índice KBW Bank desde a eleição, as ações podem subir ainda mais à medida que as políticas do novo governo vão sendo definidas, segundo ele.

Os bancos devem reduzir o número de funcionários nas agências, mas tendem a contratar profissionais especializados em concessão de empréstimos e atividades comerciais se a demanda aumentar devido ao crescimento econômico, disse Kevin Barker, analista da Piper Jaffray. Os bancos também vão recrutar mais programadores e técnicos de segurança em informática.

"Os bancos precisarão continuar acompanhando os avanços em tecnologia financeira, seja em pagamentos ou concessão de empréstimos online", afirmou Barker.

A euforia em torno das ações dos bancos também pode durar pouco. Ninguém sabe até que ponto Trump vai flexibilizar o arcabouço de regulamentações financeiras. Se os juros subirem rápido demais, as perdas de crédito podem crescer e os poupadores podem mudar suas contas em busca de retorno maior, o que elevaria os custos de captação.

Ainda assim, pela primeira vez em anos, ser analista do setor bancário voltou a ser divertido, disse Cannon, porque os investidores estão interessados.

"De repente, os gestores de carteira que praticamente não tinham posição no setor financeiro precisaram comprar esses papéis", ele contou. "Os telefones estão tocando bem mais agora."