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Há cada vez mais paralelos entre Trump e Putin: Bloomberg View

Leonid Bershidski

25/01/2017 12h06

(Bloomberg) -- Relatos de que o presidente americano Donald Trump viaja com um grupo de animadores que cria a impressão de apoio a ele em eventos (como um encontro recente com funcionários da CIA) se somam à lista de evidências de que o estilo de governo do bilionário se parece com o do presidente russo Vladimir Putin.

Os paralelos vieram com tudo na entrevista coletiva à imprensa antes da posse de Trump. Alexei Kovalev, conhecido por desmascarar a máquina de propaganda do governo russo, comparou o evento aos encontros anuais de Putin com a imprensa, de caráter quase circense. A análise fez sentido para jornalistas ocidentais, que não estão acostumados a terem suas perguntas recusadas pelo presidente e, até então, esperavam que o presidente fosse gentil com eles. A mídia russa também entendeu. Desde o primeiro mandato de Putin, os jornalistas locais lidam com aparições orquestradas e acesso restrito.

Durante o fim de semana, o secretário de imprensa de Trump, Sean Spicer, levantou a bola das comparações com a Rússia ao oferecer "fatos alternativos" quando tratou do número de pessoas que acompanharam a posse. Já o porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, negou envolvimento das tropas russas na Crimeia e no leste da Ucrânia e afirmou que seu relógio de US$ 620.000 foi presente da esposa, patinadora olímpica.

Assim como Trump, Putin gosta de trazer seus fãs a locais onde potencialmente estarão seus críticos. No começo do mês, relatos em idioma local nas mídias sociais apontavam que as mesmas pessoas apareciam em diversos encontros entre Putin e "gente comum". Foi revelado que uma dessas pessoas, Larisa Sergukhina, é proprietária de uma pequena empresa que presta serviços ao governo. Os defensores de Putin argumentam que, mesmo que as mesmas pessoas tenham sido legitimamente convidadas a diversos encontros em uma região específica, as viagens cuidadosamente orquestradas de Putin fazem parte de uma tradição russa que remonta, no mínimo, ao Príncipe Grigory Potemkin.

A semelhança cada vez maior entre Trump e Putin preocupa os americanos. Eles não estão habituados a um líder que se comporta como um czar. Contudo, Putin não imita um czar porque gosta.

Ele é introvertido, não se sente à vontade com muita gente e se prepara durante horas ? na piscina, na academia e, geralmente, sozinho ? para enfrentar cada dia. Na presença de multidões, o semblante de Putin geralmente mostra sofrimento, cansaço e irritação.
Nos encontros com "gente comum", Putin parece estático, com um sorriso amarelo, tentando simplificar seu discurso e falar de modo menos rebuscado. Ele não gosta de contato físico.

Poucos líderes se empenham tanto em esconder a família como Putin. Suas duas filhas usam nomes falsos e o Kremlin revidou tentativas da imprensa de investigar a vida e os projetos delas.

As férias ideais de Putin são caçando e pescando em uma área remota, com o menor número possível de pessoas ao redor. Mas a rotina de czar dele inclui a presença constante de um grupo de fãs.

Já o novo presidente americano é gregário. Ele claramente se sente atraído pela energia das multidões e se sai bem no contato físico. Putin se sente sabidamente desconfortável nas dependências luxuosas e vastas do Kremlin, enquanto Trump ama tudo o que é ouro e dourado. Sua esposa e seus filhos estão sempre em exibição. Trump é um showman, vive para a televisão e se delicia com a atenção que recebe.

Putin opera dentro de uma bolha, até para proteger um homem introspectivo de interações indesejadas. A bolha dele é uma carapaça.

Trump está criando uma bolha porque quer ser admirado, quer vencer, quer ser sempre o melhor. Ele não evita contato desnecessário, como Putin. Ele só evita qualquer realidade na qual não seja o Número Um. A bolha dele é um aquário.

A diferença notável entre os dois não impede tendências ditatoriais em ambos. No entanto, um ditador exibido é mais vulnerável do que um ditador reticente - algo que deve preocupar aqueles que ajudarão Trump a se preparar para inevitáveis negociações com Putin.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do comitê editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.