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Investidores em mercados emergentes perdem medo do Fed

Elena Popina e Ben Bartenstein

17/02/2017 18h11

(Bloomberg) -- Investidores de mercados emergentes não têm problema nenhum com o Federal Reserve hawkish.

Indicadores de moedas e ações de países emergentes estão perto dos níveis mais altos em 18 meses mesmo depois de o depoimento da presidente do Fed, Janet Yellen, ter estimulado o aumento das apostas de que a autoridade monetária irá elevar as taxas de juros a partir de março. O índice acionário de referência subiu quase 10 por cento neste ano e o indicador cambial equivalente registra seu melhor começo desde 2012.

Esse é um fenômeno um tanto incomum. Um ajuste da política monetária dos EUA costuma pressagiar problemas para os mercados emergentes, já que rendimentos mais altos afastam os traders dos ativos mais arriscados. Mas os investidores já sabiam há algum tempo que os aumentos de juros estavam chegando e, em vez disso, eles se concentram na ideia de que um fortalecimento da economia dos EUA alimentará o crescimento nos países em desenvolvimento, reforçará os lucros das empresas e apoiará os preços das exportações de commodities das quais muitos desses países dependem.

"Os mercados emergentes estão baratíssimos", disse Jan Dehn, diretor de pesquisa em Londres da Ashmore Group, que administra cerca de US$ 52 bilhões em ativos. "Essa rotação de títulos de mercados desenvolvidos para ações e mercados emergentes provocou um retorno a correlações positivas entre mercados emergentes locais e ações dos EUA."

Rali

O MSCI Emerging Markets Currency Index avançou 3,8 por cento nas primeiras semanas de 2017, e 21 das 24 moedas de países em desenvolvimento acompanhadas pela Bloomberg apresentam altas. Isso ocorreu após uma forte queda registrada em novembro pela inesperada vitória eleitoral de Donald Trump, que por um momento fez com que investidores procurassem os ativos mais seguros.

A julgar pelos sete ralis notáveis de moedas de países emergentes registrados nos últimos seis anos, o atual desempenho acima da média tem margem para continuar, escreveu o estrategista do Morgan Stanley Gordian Kemen em uma nota em que ele recomenda manter posições compradas na lira turca, no peso mexicano, no peso argentino e na rúpia indonésia.

Moedas de países com juros altos como Rússia, Brasil e África do Sul lideram os ganhos nos mercados emergentes neste ano. O peso chileno também está entre as cinco melhores com apoio de um rali dos metais que, de acordo com o Goldman Sachs Group, continuará. Enquanto isso, a dívida da Coreia do Sul, cujo won supera as outras moedas asiáticas neste ano, recebeu um fluxo de US$ 4,3 bilhões neste ano, o melhor da região.

Cautela

Alguns analistas mantêm a cautela.

O Goldman Sachs disse em uma nota publicada nesta semana que riscos macroeconômicos globais são um motivo para ter cuidado com as ações de mercados emergentes, e deixou de recomendar posições compradas no Brasil, na Índia e na Polônia.

Mas Enrique Díaz-Álvarez, o diretor de riscos da Ebury Partners que previu corretamente um rali do real em janeiro e uma recuperação das moedas de mercados emergentes após o recuo de novembro, projeta uma maior apreciação delas neste ano frente às mais importantes do mundo.

"Fazendo uma análise para além de uma reação imediata do mercado a um aumento de juros e se concentrando em um cenário mais geral, observa-se que os fundamentos nos mercados emergentes estão fortes", disse ele. "Os mercados em desenvolvimento se saem melhor quando os mercados desenvolvidos estão mais fortes."