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Reforma de Trump ao Nafta pode coincidir com eleição no México

Eric Martin e Joshua Wingrove

09/03/2017 13h19

(Bloomberg) -- O calendário do presidente Donald Trump para negociar o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, na sigla em inglês) corre o risco de cair em um ano eleitoral no México, que poderia sentir o impacto econômico da incerteza, especialmente se o acordo começar a se desintegrar.

O secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, disse na quarta-feira que as negociações comerciais provavelmente começarão no fim de 2017 e que não deverão durar muito mais que um ano. "Eu gostaria de ter os resultados amanhã, mas o mundo não trabalha dessa forma", disse Ross, em entrevista à Bloomberg TV.

Mesmo a essa velocidade -- e alguns observadores alertam que as negociações poderiam demorar anos --, a incerteza sobre o destino do Nafta provavelmente afetará a eleição presidencial de julho de 2018 no México, o principal alvo das queixas dos EUA.

Trump, que afirmou que o Nafta é provavelmente o pior acordo comercial da história mundial, quer garantir condições mais favoráveis para os trabalhadores dos EUA e culpa o acordo pela perda de empregos industriais para o México, onde os salários são mais baixos. Ele ameaçou anular o acordo se não for possível reformulá-lo. Qualquer sócio do Nafta pode se retirar do acordo com aviso prévio de seis meses.

Os observadores afirmam que as negociações para atualizar ou reformular o Nafta, um acordo que também inclui o Canadá, estão se tornando mais longas e complexas do que o indicado inicialmente por Trump, que de maneira geral precisa avisar o Congresso com pelo menos 90 dias de antecipação antes de rever um acordo comercial. Trump disse no mês passado que gostaria de acelerar as discussões.

Empurrar a revisão para a campanha eleitoral mexicana é algo que pode adicionar mais um nível de complexidade política e servir apenas para aumentar os temores de que o México possa perder o acesso ao seu maior mercado de exportação, os EUA. O peso mexicano teve uma desvalorização de mais de 7 por cento em relação ao dólar desde que Trump ganhou a eleição presidencial porque os investidores apostam que sua promessa de reduzir o déficit comercial dos EUA com seu vizinho do sul afetará a economia.

'Injetando incerteza'

Isso "não vai tornar a situação mais fácil", disse John Weekes, chefe de negociação canadense do Nafta original no início dos anos 1990. Os mexicanos "não vão poder mostrar nenhuma flexibilidade" antes de uma eleição, mas o prazo de Ross é encorajador, acrescentou Weekes, atualmente consultor de comércio exterior do escritório de advocacia Bennett Jones. "Mostra que ele reconhece que o Nafta é um acordo importante para os EUA e que vale a pena o tempo gasto nele."

O atual chefe de negociação do México, o ministro da Economia, Ildefonso Guajardo, disse no mês passado que estender as negociações até o início de 2018 "injetaria irresponsavelmente uma incerteza após outra" devido às eleições mexicanas e à eleição legislativa dos EUA, em novembro de 2018.

No México, o partido do presidente Enrique Peña Nieto provavelmente enfrentará a pressão do candidato populista de oposição, Andrés Manuel López Obrador, que aparece à frente de seus possíveis adversários nas pesquisas recentes. A lei mexicana impede Peña Nieto de concorrer à reeleição em 2018.