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Brexit e independência escocesa se cruzam no centro de Edimburgo

Rodney Jefferson e Lukanyo Mnyanda

17/03/2017 09h29

(Bloomberg) -- No centro de Edimburgo, gestores de recursos, advogados e contadores trabalham zelosamente em seus escritórios em grandes casas do fim do século 18, cuidando das pensões de milhões de pessoas de todo o Reino Unido. Elas gostam das coisas como estão: uma grande maioria rejeitou a independência escocesa e apoiou a permanência do Reino Unido na União Europeia.

Mas o status quo deixou de ser uma opção.

E o centro financeiro da Escócia poderia acabar definindo o resultado de uma votação sobre a criação do mais novo estado da Europa. Foi ali, de sua residência como primeira-ministra escocesa, que a líder nacionalista Nicola Sturgeon anunciou um plano para outro referendo de independência já no ano que vem.

"A maioria das pessoas diria que, se houvesse um referendo hoje, o resultado provavelmente seria semelhante ao da vez passada" ? em 2014, quando o voto pela independência foi derrotado por 55 por cento a 45 por cento ? disse Martin Davis, CEO da Kames Capital, da seguradora holandesa Aegon NV. A pergunta é "se este continuará sendo o caso à medida que passarmos por esse longo processo de solucionar as ramificações do Brexit", disse ele.

Apesar do impulso político por trás de Sturgeon enquanto ela se dirige à conferência de seu partido neste fim de semana, o desafio será convencer uma quantidade suficiente de pessoas importantes da Escócia a apoiá-la. Para as companhias de fundos de Edimburgo, que juntas administram mais de US$ 600 bilhões, trata-se menos do que mudou nos últimos dois anos e mais do que pode mudar nos próximos dois.

A questão da independência ? o controle total da economia, o petróleo e a soberania ? está em jogo desde que nacionalistas transformaram eternos perdedores em uma força política aparentemente inatacável durante a última década. Em vez de se dissipar depois da votação de 2014, ela se fortaleceu. Em meio à turbulência da decisão do Reino Unido, em referendo, de sair da UE, surgiu uma oportunidade.

Convencer as elites

Após a oposição da primeira-ministra Theresa May, que na quinta-feira recusou a realização de outro referendo enquanto o Brexit não for resolvido, a aparente estratégia de Sturgeon é colocar a iminente perda da Europa contra a promessa de independência. Edimburgo rejeitou esmagadoramente a saída do Reino Unido, mas 74 por cento de seus eleitores votaram pela permanência na UE, mais até que a poliglota Londres.

As pessoas que apoiam o poder do Parlamento escocês, mas que estavam reticentes em relação a desmembrar o Reino Unido depois de três séculos, são um dos principais grupos que poderiam balançar a votação, de acordo com Nicola McEwen, professora de política da Universidade de Edimburgo. A resposta dada por May nesta semana, de que "este não é o momento" para outro referendo escocês, se encaixa no discurso de Sturgeon, que alega que está sendo negado aos escoceses o direito de tomar suas próprias decisões, disse ela.

"Um caminho será convencer as elites", disse McEwen. "Eles precisam conquistar esse grupo de pessoas que acreditam na descentralização, mas não na independência."