O fim dos homens? Não no setor de varejo: Bloomberg View
(Bloomberg) -- Das vendedoras de lojas do século 19 até as compradoras do século 20, o varejo moderno sempre foi um ambiente de trabalho aberto às mulheres. Basta olhar para as fotos que as lojas de departamento de hoje em dia usam para ilustrar seu comprometimento com a diversidade. O número de mulheres normalmente supera o de homens em uma proporção de pelo menos duas para um, um número que reflete a realidade. Na Nordstrom, por exemplo, 70 por cento de todos os funcionários e 69 por cento dos gerentes são mulheres.
Portanto, o "apocalipse do varejo" significa menos empregos para as mulheres. O nível de emprego no comércio varejista ficou praticamente estagnado no ano passado, com um aumento de menos de 0,4 por cento, ou cerca de 58.000 postos, segundo o Escritório de Estatísticas do Trabalho. Para varejistas de mercadorias em geral, onde as mulheres predominam, 50.000 empregos foram eliminados.
O colapso do varejo tradicional reverte uma tendência há muito tempo esperada: postos que envolvem o trabalho com coisas estão desaparecendo, enquanto os que exigem uma personalidade vencedora -- celebrada como "inteligência emocional" -- estão aumentando. Os homens perdem, enquanto as mulheres ganham, especialmente na camada mais baixa de renda e grau de escolaridade.
"O mercado de trabalho continua a se afastar dos empregos tradicionalmente masculinos em direção aos postos tradicionalmente femininos", disse Jed Kolko, economista-chefe do site de empregos Indeed, ao USA Today na semana passada. É um problema, em particular para homens com menor nível de escolaridade, metade dos quais desempenham funções onde pelo menos 80 por cento dos trabalhadores são homens, na comparação com os 20 por cento dos homens com nível superior. "Empregos masculinos em rápida expansão que exigem alto nível de escolaridade de fato não ajudam homens sem diploma universitário, que trabalham em postos tradicionalmente masculinos e para os quais o trabalho é parte da identidade masculina", escreveu Kolko em um blog.
Isso é uma verdade, mas incompleta. Relatórios sobre mudanças econômicas tendem a refletir dois vieses. Enfatizam perdedores e vencedores, os visíveis sobre os invisíveis. E refletem os valores pessoais e profissionais das pessoas articuladas e instruídas que preparam o relatório.
Ao contrário do triunfalismo feminino que declara as habilidades tradicionalmente masculinas obsoletas, a economia está cheia de surpresas e contracorrentes. No mundo do varejo, a demanda por vendedores hábeis em agradar pessoas está em baixa. Até mesmo clientes que vão às lojas preferem fazer sua própria pesquisa on-line, entrando e saindo rapidamente, em vez de ter de lidar com vendedores solícitos. Ao mesmo tempo, a demanda por trabalhadores em depósitos de movimentação de mercadorias e, pelo menos até os caminhões autônomos e drones se tornarem realidade, por motoristas de entregas está crescendo. É uma boa notícia para homens com baixo grau de escolaridade.
No ano passado, o número de norte-americanos trabalhando em transporte e em depósitos aumentou em 47.000, ou 5,2 por cento, para 945.000 no total, segundo o Escritório de Estatísticas do Trabalho. Para trabalhadores da produção e sem cargos de supervisão, o salto foi ainda maior, de 6,4 por cento. Os homens respondem por mais de 75 por cento de todos os postos em depósitos e em transportes.
Assim como fábricas de capital intensivo, os depósitos com assistentes robóticos tornam os funcionários mais produtivos e, portanto, mais valiosos. Nas modernas instalações da Amazon, eles complementam as habilidades humanas. "Gostamos de pensar nisso como uma sinfonia de software, aprendizado de máquina, algoritmos computacionais e pessoas", disse um porta-voz da empresa à MIT Technology Review.
Os salários, embora baixos, estão subindo à medida que os varejistas expandem as ofertas on-line. Centros de atendimento tendem a se concentrar em lugares como o nordeste do Kentucky, perto de Cincinnati, e no Inland Empire, no leste de Los Angeles. Portanto, eles são retirados da mesma piscina de talentos. E a competição por mão de obra está cada vez mais acirrada.
A empresa de recrutamento em logística ProLogistix revela que os salários iniciais subiram 6 por cento em relação ao ano passado. A empresa de atendimento Radial fez um reajuste semelhante em dezembro. "O ano passado realmente foi o ponto de inflexão para nós", disse Robyn Jordan, diretora sênior de recursos humanos para as operações globais da Radial, ao The Wall Street Journal.
O ponto de inflexão é também conhecido como o colapso do varejo.
É fácil ver vitrines vazias e shopping centers moribundos. Mas, fora do alcance da visão, os depósitos estão fervilhando com encomendas e com os funcionários que as entregam. Serviços de entrega como UPS e FedEx estão expandindo suas instalações, criando empregos não apenas para seus empregados, mas também para a mão de obra da construção. A evolução do varejo é uma mudança, não um desastre. E é muito cedo para apagar os caras comuns do futuro econômico.
(Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial da Bloomberg, da Bloomberg LP e de seus proprietários.)
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