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Para Morgan Stanley, investidores andam subestimando o Fed

Netty Idayu Ismail, Wes Goodman e Lilian Karunungan

26/04/2017 10h49

(Bloomberg) -- Investidores estão subestimando o potencial do banco central dos EUA (Federal Reserve) de elevar os juros, segundo a divisão de gestão de recursos do Morgan Stanley. Para a instituição, o rendimento dos títulos do Tesouro americano vai subir e os títulos de mercados emergentes são aposta melhor diante do avanço da economia global.

"O mercado parece estar atribuindo probabilidade muito grande a uma perspectiva muito benigna e branda por parte do Fed nos próximos 12 meses", disse Michael Kushma, diretor de investimentos em renda fixa global da Morgan Stanley Investment Management, em Nova York. "Nós estamos mais otimistas em relação aos dados que permitirão que o Fed continue entregando o que disse que entregaria."

Após aumentar os juros em março, o banco central provavelmente apertará novamente em junho e setembro, afirmou Kushma em entrevista realizada em Cingapura na terça-feira. O Fed ainda não convenceu o mercado de que subirá os juros mais duas vezes neste ano, conforme sinalizou na plotagem de projeções conhecida como "dot plot". Os contratos futuros implicam somente mais um acréscimo de juros neste ano.

A gestora de recursos, que supervisiona aproximadamente US$ 420 bilhões, tem alocação acima do peso proporcional em moedas e títulos de países emergentes onde ocorrem reformas. Para o diretor de investimentos, esses instrumentos estarão protegidos das oscilações nos títulos do Tesouro americano. Ele listou apostas em ativos do Brasil, Colômbia, Indonésia, Argentina e Índia, que se beneficiarão da aceleração do crescimento mundial.

O fundo também investiu no peso mexicano e nos títulos do país, que ficaram "baratos demais" no primeiro trimestre devido às ameaças do presidente dos EUA, Donald Trump, de reescrever o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta).

"Escolham mercados emergentes com a combinação correta de reformas estruturais, mudança na dinâmica política e trajetória doméstica que ajude a isolá-los das flutuações do mercado de títulos do Tesouro americano ou das condições financeiras globais", recomendou Kushma.

O rendimento do título do Tesouro americano com prazo de 10 anos vai subir para cerca de 2,75 por cento até o final de dezembro e pode atingir 3 por cento, estima Kushma, acrescentando que a taxa pode passar de 3 por cento em 2018. O rendimento estava em 2,34 por cento às 06h51 em Londres nesta quarta-feira.

Bolha financeira

Na opinião do famoso gestor de renda fixa da Franklin Templeton, Michael Hasenstab, o mercado de títulos do Tesouro americano formou uma das maiores bolhas financeiras do mundo. Para ele, os investidores que buscam segurança nesses instrumentos enfrentam a perspectiva de grandes perdas com o aumento dos rendimentos. Hasenstab, que administra o Templeton Global Bond Fund, com US$ 40 bilhões em ativos, citou diversos argumentos que sustentam essa visão, incluindo um recuo por parte dos investidores estrangeiros, o aumento da inflação ao consumidor devido ao aquecimento do mercado de trabalho nos EUA e a opinião dele de que o Fed está atrás da curva na normalização da política monetária.

As expectativas em torno da reativação da economia pelo governo após a vitória de Trump em novembro estavam "otimistas demais", de acordo com Kushma, do Morgan Stanley. Na semana passada, o rendimento do título do Tesouro americano com prazo de 10 anos chegou ao menor nível em cinco meses, diante da menor confiança na reforma tributária e das tensões geopolíticas envolvendo a Coreia do Norte, que estimularam a demanda por ativos mais seguros.

"Em algum momento, veremos melhora modesta na reforma tributária, nos cortes de impostos e talvez algum gasto em infraestrutura", disse Kushma. "Talvez não haja impacto até o ano que vem."