IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Xi tem US$ 500 bi para reformular o mundo à imagem da China

Bloomberg News

12/05/2017 11h26

(Bloomberg) -- A China é um dos poucos países do mundo com dinheiro para gastar, e Xi Jinping está disposto a assinar alguns cheques.

O presidente da China receberá quase 30 líderes mundiais em Pequim no domingo, no primeiro fórum "Um cinturão, uma estrada", a peça central de uma iniciativa de poder baseado na influência e sustentada por centenas de bilhões de dólares para projetos de infraestrutura. Mais de 100 países de cinco continentes se inscreveram, evidenciando a demanda pela cooperação econômica global, apesar do crescente protecionismo nos EUA e na Europa.

Para Xi, a iniciativa foi projetada para consolidar sua imagem como um dos principais defensores da globalização, enquanto o presidente dos EUA, Donald Trump, reduz fundos estrangeiros em nome de colocar os "EUA em primeiro lugar". A cúpula visa a aliviar os receios relativos à ascensão da China e dar impulso à imagem de Xi em casa, onde ele se tornou o líder mais poderoso desde a morte de Deng Xiaoping em 1997.

A iniciativa Um cinturão, uma estrada "provavelmente será o legado mais duradouro de Xi", disse Trey McArver, diretor de pesquisa sobre a China da TS Lombard, uma empresa de pesquisa de investimentos, em Londres. "Tem potencial para reconstruir os padrões comerciais e econômicos globais ? particularmente asiáticos."

A estratégia também traz riscos. Até agora, a iniciativa é pouco mais que um slogan de marketing que engloba todos os tipos de projetos que a China havia iniciado no exterior durante anos, e grandes líderes mundiais, como Trump, Angela Merkel e Shinzo Abe, se mantêm afastados. O sucesso da estratégia dependerá muito de como Xi responderá a uma série de questões pendentes.

Para diminuir a incerteza, será fundamental abordar os receios de rivais estratégicos, como Índia, Rússia e EUA, particularmente porque a crescente perícia militar da China possibilita que o país seja mais assertivo em relação a territórios disputados. Medidas chinesas para investir mais de US$ 50 bilhões em um corredor econômico no Paquistão, construir um porto em Djibouti e construir oleodutos na Ásia central estão criando infraestruturas que poderiam ser usadas para desafiar os poderes tradicionais.

"A China precisa reconhecer que sua maneira de perceber a iniciativa 'Um cinturão, uma estrada' não é necessariamente a mesma dos outros", disse Paul Haenle, ex-diretor sobre China do Conselho de Segurança Nacional dos EUA que agora chefia o Carnegie-Tsinghua Center em Pequim. Para países como os EUA, disse ele, "é impossível não ver a iniciativa através de uma lente geopolítica ? um esforço chinês para construir uma esfera de influência."

Capacidade excedente

Em setembro de 2013, quando Xi apresentou pela primeira vez o plano em uma obscura universidade do Cazaquistão, ele se concentrava na massa continental da Eurásia. Desde então, o plano já mudou de nome várias vezes e cresceu a ponto de incluir o mundo inteiro, e seu principal objetivo é reconstruir as antigas rotas de comércio entre a China e a Europa, tanto por terra quanto pelo mar.

Um dos principais fatores foi econômico: a China quer estimular o crescimento no interior subdesenvolvido e encontrar mais mercados para o excesso de capacidade industrial. Com mais de US$ 3 trilhões em reservas internacionais ? mais de um quarto do total mundial ?, a China tem mais recursos do que as economias desenvolvidas que lutam para alcançar metas orçamentárias.

Os EUA e a Europa "quase sem querer" criaram espaço para Xi defender os interesses da China, de acordo com Peter Cai, pesquisador do Instituto Lowy de Política Internacional.

"A China está oferecendo uma alternativa à versão americana da globalização", disse Cai. "No caso chinês, é a globalização pavimentada pelo concreto: ferrovias, rodovias, oleodutos, portos."

A China investiu mais de US$ 50 bilhões em países da iniciativa Um cinturão, uma estrada desde 2013, de acordo com a agência oficial de notícias Xinhua. O Credit Suisse Group afirmou neste mês que a China poderia injetar mais de US$ 500 bilhões em 62 países ao longo de cinco anos.