Apesar de Moscou, turistas russos adoram futuro membro da Otan
(Bloomberg) -- Marijana Toskovic, uma agente imobiliária de Montenegro, tem bons motivos para não querer que seu país entre na Otan no próximo mês. Ela obtém mais de metade de sua renda com clientes da Rússia, e o governo russo já está fazendo campanha para que seus cidadãos não viajem para lá.
A oposição a colocaria do lado de quase metade dos cidadãos desta antiga república da Iugoslávia, que, segundo as pesquisas, estão divididos em relação a aderir à aliança militar por causa da amarga história do conflito nos Bálcãs.
Mesmo assim, Toskovic defende a entrada.
"Provavelmente é melhor participar, só para evitar alguns problemas no futuro ? afinal, são os Bálcãs", disse Toskovic, 31. "Eu me contentaria com estabilidade e paz. É disso que mais precisamos."
A questão é se a adesão trará a estabilidade que ela busca. O Kremlin não ocultou sua raiva com os esforços de Montenegro para juntar-se tanto à União Europeia como ao euro depois de conseguir a adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte.
O primeiro-ministro do estado balcânico, Dusko Markovic, disse em uma entrevista neste mês que a adesão à Otan contribuirá para a paz regional e "dará um impulso crucial para o crescimento econômico". Ele também acusou em diversas ocasiões, inclusive na entrevista, a Rússia de ter organizado um golpe durante as eleições de outubro passado. Não deu certo, ele disse. Além disso, ele acusou a Rússia de tentar assassinar seu antecessor, Milo Djukanovic. Moscou nega as acusações.
"Não esperamos que a Rússia desista do país", disse Miha Hribernik, analista sênior da consultoria de risco global Verisk Maplecroft, por e-mail. "Os altos níveis de sentimento pró-russo continuarão dando ao Kremlin um mecanismo para fomentar a instabilidade".
Os legisladores de Montenegro, que se separaram da Sérvia em 2006, aprovaram a participação na Otan em 28 de abril e o país vai aderir formalmente em 5 de junho, disse Markovic à emissora de rádio Voice of America na semana passada. O país tem pouco a oferecer para o fortalecimento das forças da aliança: um exército de 2.000 soldados, cerca de 15 helicópteros, duas fragatas antigas e o mesmo número de jatos leves. Mas ele completa o domínio da Otan no Mediterrâneo, adicionando à aliança o último pedaço de território necessário para garantir toda a linha costeira do norte, de Gibraltar à Síria.
"O motivo de Washington é claramente impedir que o país caia na esfera russa e se torne um risco de segurança para o Ocidente", disse Timothy Less, diretor da consultoria de risco político da Nova Europa, por e-mail.
O secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, defendeu a adesão de Montenegro em uma reunião da Otan em 31 de março, em Bruxelas, notando que foi aprovada de forma esmagadora pelo Senado.
A Rússia, por sua vez, quer que seu povo ? que representa cerca de um terço dos turistas estrangeiros em Montenegro ? fique longe. Em abril, Maria Zakharova, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores em Moscou, pediu que seus compatriotas pensassem duas vezes antes de ir para lá, citando ima "histeria antirrussa".
"Enfatizamos que o rumo antirrusso e destrutivo da liderança montenegrina vai contra os interesses do povo montenegrino", disse ela em fevereiro.
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