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Será difícil ignorar trapaceiro da Opep com fracasso de cortes

Sam Wilkin

22/05/2017 12h36

(Bloomberg) -- O segundo maior produtor da Opep é também o maior trapaceiro do grupo.

E se o passado é um prefácio, isso diminui as chances de o grupo conseguir muito mais ganhos de preço com seus cortes de produção.

O Iraque bombeou cerca de 80.000 barris de petróleo por dia a mais do que o permitido pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) durante o primeiro trimestre. Se esse acordo for estendido até 2018, o país terá ainda menos incentivos para cumprir a meta porque a capacidade dos campos importantes do sul está sendo expandida e os três anos de combate ao Estado Islâmico afundaram o país em dívidas.

"Deixar essa capacidade produtiva ociosa é algo que vem com um custo de oportunidade que o Iraque pode relutar em enfrentar", disse Harry Tchilinguirian, chefe de estratégia de mercados de commodities em Londres do BNP Paribas. No entanto, ele está otimista de que os estoques globais cairão até o fim do ano porque membros como a Arábia Saudita compensarão as transgressões do Iraque.

Surge um risco, contudo, caso o cumprimento iraquiano piore a tal ponto que outros países do grupo de 13 membros também comecem a pegar atalhos, piorando um excedente global que já eliminou boa parte dos ganhos obtidos após o fechamento do acordo, em novembro.

O petróleo Brent caiu para menos de US$ 50 o barril neste mês depois que os dados mostraram que os produtores de xisto dos EUA estavam bem de saúde, afetando os esforços da Opep para controlar a oferta excedente. Apesar de o petróleo ter recuperado os prejuízos depois que a Arábia Saudita e a Rússia usaram seu peso para estender as reduções de produção por mais seis meses, atualmente o barril está 7 por cento abaixo do maior patamar pós-acordo.

"Muitos participantes do mercado não se impressionaram muito com o impacto do corte", disse Martijn Rats, analista de petróleo do Morgan Stanley, em entrevista, em Dubai. Ele afirma que os membros da Opep têm maior probabilidade de respeitarem os cortes se o Brent for negociado na faixa entre US$ 50 e US$ 60, mas que preços acima ou abaixo dessa faixa aumentam o risco de descumprimento do acordo.

No acordo de novembro, a Opep previu um corte de 1,2 milhão de barris por dia de produção e o Iraque concordou em reduzir sua produção em 210.000 barris por dia, para 4,351 milhões de barris por dia. No primeiro trimestre, o Iraque atingiu apenas 61 por cento da meta de corte, apesar de o cumprimento ter melhorado para 90 por cento em abril, segundo dados da Opep. O país não é o único retardatário. Os Emirados Árabes Unidos atingiram apenas 57 por cento de seu corte no primeiro trimestre, apesar de terem superado a meta em abril, e muitos produtores de fora da Opep, incluindo a Rússia, também descumpriram suas metas.

"Eu duvido que o Iraque reduza sua produção no segundo semestre mais do que já reduziu", disse Robin Mills, CEO da consultoria Qamar Energy em Dubai. Em vez de diminuir, é possível que o país aumente sua produção porque concluirá serviços de manutenção em diversos campos e iniciará produção em novos campos e também porque o consumo doméstico sazonal aumentará, disse ele. E há sinais de que essa tendência já tenha começado.